Opinião
Chumbo trocado
Estadão
A reação de forças governistas e oposicionistas aos desdobramentos da crise política está virando bate-boca de botequim e ameaçando descambar para o perigoso campo da galhofa. Foi a própria presidente da República quem definiu a nova matriz do Festival de Besteiras que Assola o País, com as sandices que verteu abundantemente em entrevista à Folha de S. Paulo, tais como chegar à beira do chilique – “Não vou cair! Não vou cair!” – ao negar a possibilidade de seu afastamento do cargo, ou quando, numa tentativa canhestra de posar de heroína, voltou a tratar como se fossem a mesma coisa a delação obtida por tortura física praticada nos porões da repressão ditatorial e a delação premiada que está ajudando a Justiça a desvendar o escândalo de corrupção na Petrobrás.
Todo mundo sabe que nas desarticuladas manifestações de improviso de Dilma Rousseff nem sempre impera a lucidez, para não falar em senso de oportunidade política. Assim, somente a irreprimível autossuficiência da chefe do governo é capaz de explicar a desastrada entrevista. Desastrada porque forneceu munição aos oposicionistas, conforme as queixas off the record colhidas dentro do próprio PT. Também lamentável porque rebaixou o parâmetro do debate político, como se pode constatar pelo nível dos ataques com que governistas e oposicionistas passaram a se contemplar mutuamente.
Um bom exemplo de que o cenário político começa a descambar para o vale-tudo é dado por um notório adepto da política do porrete, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), em declaração registrada pelo Globo: “Baixar a bola? Nós vamos é para cima deles. Não tem essa de amenizar. Vamos para a beligerância”. É o caso de perguntar: partir “para cima” como, se a tigrada não dá conta nem mesmo de defender o governo instalado no Planalto?
Na tarde de terça-feira, os dirigentes dos partidos da falida base aliada – menos PP e PTB – reuniram-se na Vice-Presidência, convocados por Michel Temer, para, a pedido do Planalto, divulgar uma nota de apoio à presidente da República diante das ameaças de afastamento do cargo. Para não perder o hábito dos tempos em que podia tratar os aliados como subordinados, o presidente do PT, Rui Falcão, chegou ao encontro com o documento pronto, vazado em termos de vigoroso repúdio ao “golpismo” da oposição e à tendência do Tribunal de Contas da União (TCU) de rejeitar as contas do governo relativas a 2014, o que abriria a possibilidade de o Congresso colocar em pauta o impeachment de Dilma. A pouca disposição dos demais partidos de comprar briga defendendo a presidente obrigou Falcão a mexer no texto, que acabou se transformando numa nota de apoio pro forma, na qual se registra o “respeito à Constituição e seu inarredável compromisso com a vontade popular expressa nas urnas e com a legalidade democrática”.
Por parte da oposição, coube ao senador Aécio Neves rebater a acusação de golpismo, em nota na qual afirma que “discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia”, para arrematar: “Tudo o que contraria o PT é golpe”.
Com o tiroteio entre governistas e oposicionistas ganhando intensidade, chamaria a atenção o silêncio atrás do qual Lula se tem protegido nos últimos dias, não fosse exatamente esse o padrão de comportamento do ex-presidente nos momentos mais agudos de qualquer crise que lhe possa trazer prejuízos políticos. A radicalização que domina o cenário só permitiria a Lula tomar o partido de Dilma, algo que decididamente não lhe interessa no momento, já que aparentemente ele não tem ainda clara a melhor estratégia para preservar sua ambição de voltar ao Planalto em 2018.
Para Lula, o melhor cenário é aquele que lhe permita assumir o comando da oposição a um governo desmoralizado. De preferência, se a mão do gato se encarregar de tirar Dilma da frente.
A atitude de Lula é a maior evidência de que a possibilidade de afastamento de Dilma – o “golpismo”, como acusa o PT – não é a causa, mas a consequência da atual crise política que, por sua vez, é o resultado da incompetência de uma presidente que apenas 9% da população apoia e do mar de lama em que chafurda parte da elite do PT e aliados.
Original aqui
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Estadão
A reação de forças governistas e oposicionistas aos desdobramentos da crise política está virando bate-boca de botequim e ameaçando descambar para o perigoso campo da galhofa. Foi a própria presidente da República quem definiu a nova matriz do Festival de Besteiras que Assola o País, com as sandices que verteu abundantemente em entrevista à Folha de S. Paulo, tais como chegar à beira do chilique – “Não vou cair! Não vou cair!” – ao negar a possibilidade de seu afastamento do cargo, ou quando, numa tentativa canhestra de posar de heroína, voltou a tratar como se fossem a mesma coisa a delação obtida por tortura física praticada nos porões da repressão ditatorial e a delação premiada que está ajudando a Justiça a desvendar o escândalo de corrupção na Petrobrás.
Todo mundo sabe que nas desarticuladas manifestações de improviso de Dilma Rousseff nem sempre impera a lucidez, para não falar em senso de oportunidade política. Assim, somente a irreprimível autossuficiência da chefe do governo é capaz de explicar a desastrada entrevista. Desastrada porque forneceu munição aos oposicionistas, conforme as queixas off the record colhidas dentro do próprio PT. Também lamentável porque rebaixou o parâmetro do debate político, como se pode constatar pelo nível dos ataques com que governistas e oposicionistas passaram a se contemplar mutuamente.
Um bom exemplo de que o cenário político começa a descambar para o vale-tudo é dado por um notório adepto da política do porrete, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), em declaração registrada pelo Globo: “Baixar a bola? Nós vamos é para cima deles. Não tem essa de amenizar. Vamos para a beligerância”. É o caso de perguntar: partir “para cima” como, se a tigrada não dá conta nem mesmo de defender o governo instalado no Planalto?
Na tarde de terça-feira, os dirigentes dos partidos da falida base aliada – menos PP e PTB – reuniram-se na Vice-Presidência, convocados por Michel Temer, para, a pedido do Planalto, divulgar uma nota de apoio à presidente da República diante das ameaças de afastamento do cargo. Para não perder o hábito dos tempos em que podia tratar os aliados como subordinados, o presidente do PT, Rui Falcão, chegou ao encontro com o documento pronto, vazado em termos de vigoroso repúdio ao “golpismo” da oposição e à tendência do Tribunal de Contas da União (TCU) de rejeitar as contas do governo relativas a 2014, o que abriria a possibilidade de o Congresso colocar em pauta o impeachment de Dilma. A pouca disposição dos demais partidos de comprar briga defendendo a presidente obrigou Falcão a mexer no texto, que acabou se transformando numa nota de apoio pro forma, na qual se registra o “respeito à Constituição e seu inarredável compromisso com a vontade popular expressa nas urnas e com a legalidade democrática”.
Por parte da oposição, coube ao senador Aécio Neves rebater a acusação de golpismo, em nota na qual afirma que “discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia”, para arrematar: “Tudo o que contraria o PT é golpe”.
Com o tiroteio entre governistas e oposicionistas ganhando intensidade, chamaria a atenção o silêncio atrás do qual Lula se tem protegido nos últimos dias, não fosse exatamente esse o padrão de comportamento do ex-presidente nos momentos mais agudos de qualquer crise que lhe possa trazer prejuízos políticos. A radicalização que domina o cenário só permitiria a Lula tomar o partido de Dilma, algo que decididamente não lhe interessa no momento, já que aparentemente ele não tem ainda clara a melhor estratégia para preservar sua ambição de voltar ao Planalto em 2018.
Para Lula, o melhor cenário é aquele que lhe permita assumir o comando da oposição a um governo desmoralizado. De preferência, se a mão do gato se encarregar de tirar Dilma da frente.
A atitude de Lula é a maior evidência de que a possibilidade de afastamento de Dilma – o “golpismo”, como acusa o PT – não é a causa, mas a consequência da atual crise política que, por sua vez, é o resultado da incompetência de uma presidente que apenas 9% da população apoia e do mar de lama em que chafurda parte da elite do PT e aliados.
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