Opinião

Os americanos estão chegando

Americanos desempenharam mais uma vez o papel de polícia do mundo, e dessa vez foram aplaudidos.

Sérgio Malbergier
Há décadas se fala de corrupção na Fifa. Há décadas se fala de corrupção na CBF. Mas nada de efetivo aconteceu. Quando a corrupção exposta segue impune, ela aumenta. Ricardo Teixeira foi sucedido por José Maria Marin, que dá o nome do novo prédio da CBF no Rio.

Agora o jogo mudou. O país mais poderoso do mundo, que nunca deu muita bola para o futebol, lhe deu contribuição inestimável com uma ação hollywoodiana.

Em plena Suíça, dias antes da eleição do presidente da FIFA, policiais suíços a pedido dos EUA invadiram os quartos de alguns dos homens mais poderosos do futebol mundial e os levaram para o xadrez. Uma jogada espetacular –a espetacularidade do combate ao crime faz parte do combate ao crime.

Pouco depois, do outro lado do Atlântico, o mundo acompanhou a entrevista coletiva do "dream team" da investigação americana, a começar pela secretária (ministra) da Justiça do país, seguida pelo diretor-geral do FBI (polícia federal), o chefe do IRS (receita federal), entre outros. Um a um, eles se revezaram no microfone anunciando as razões da prisão e prometendo punições severas à elite do futebol mundial, inclusive o nosso Marin.

Quando vi a notícia, lembrei do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa, que na semana passada disse em palestra em São Paulo que a legislação americana é a base do combate internacional à corrupção, no qual o Brasil vem se inserindo.

Essa legislação, conhecida como FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), permite investigar e punir qualquer empresa do mundo por corrupção caso tenham algum tipo de registro ou operação nos EUA. Mesmo transações entre duas empresas não-americanas podem ser investigadas.

A enorme maioria dos detidos e investigados até aqui no caso FIFA não é de americanos. A grande corrupção tende a ser um crime transnacional. E os olhos e os ouvidos dos EUA são poderosos.

O Departamento de Justiça chegou ao caso por acaso, quando uma força-tarefa do FBI em Nova York investigava o crime organizado russo. Desde então, foram quatro anos de investigação até as prisões em Zurique, que as autoridades disseram ser "o começo, não o fim" dos esforços americanos.

Por aqui, a Lava-Jato tem progredido com rapidez, vigor e audácia jamais vistos nas operações locais contra a corrupção —apesar da artilharia pesada todos os dias, de várias frentes.

O que mais me espanta são comentaristas de esquerda que sempre atacaram a corrupção ferozmente hoje atacarem ferozmente quem investiga a corrupção. Um sectarismo cego que não se vê nos países mais desenvolvidos ao menos quando o assunto é corrupção.

Mas a CBF parece que ninguém vai defender. Nem o fato de um importante dirigente do futebol brasileiro, político e ex-governador de São Paulo, ter sido preso na Suíça a mando dos Estados Unidos comoveu os nacionalistas de plantão.

Fico imaginando se um dia veremos os intocáveis combatentes do crime americanos anunciando ações contra brasileiros em outras áreas do país infeccionadas pela corrupção. Pode isso, Arnaldo? 

Original aqui

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