Opinião
O e-mail bomba
A vantagem de expressar por escrito as suas razões tem como contrapartida a responsabilidade de ser cobrado por cada palavra
Nelson Motta, O Globo
“Nunca é fácil separar, então vamos fazer o seu trabalho sujo. Por que se preocupar dizendo adeus ao seu amor? Quem precisa de dor e quem tem tempo? Por que olhar nos olhos dela ou dele? Ninguém quer lidar com toda a gritaria, choro e apelos emocionais de ‘apenas mais uma chance’”.
É chocante, mas tem gente que acredita e paga por isso: um site da Austrália se oferece para acabar namoros por e-mail, SMS ou telefone, por módicos cinco dólares.
Pensando bem, o e-mail não é uma ideia tão absurda assim. Homens têm muita dificuldade de acabar namoros, têm medo de enfrentar mulheres chorando e gritando, ou tomadas por fúria infernal, e vão empurrando com a barriga, arriscando relações paralelas, e às vezes são eles que acabam levando um pé na bunda.
E aí, com o orgulho macho ferido, o otário descobre que aquela é a mulher que quer, e que vai reconquistá-la a qualquer preço, numa receita segura de infelicidade absoluta.
Por que não escrever um e-mail sincero e educado, pensado e refletido, lido e relido, cortado e reescrito, usando a razão para expressar os sentimentos e os motivos que levam àquela decisão? Quanto menor e mais conciso, melhor.
Você tem vários dias para escrever e para pensar antes de mandar, e pode até não mandar. Tem a segurança de ler e reler o que escreveu, de “ouvir” o que você mesmo está dizendo, de poder mudar, de escolher e pesar bem cada palavra para evitar mal-entendidos ou dar margem a dúvidas e ambiguidades que complicam e esticam ainda mais a história.
E, por incrível que pareça, sim, tudo isso pode ser feito com emoção.
A vantagem de expressar por escrito as suas razões tem como contrapartida a responsabilidade de ser cobrado por cada palavra. A pessoa pode ler mil vezes, analisar, entender e sentir o que você diz, e dar o caso por encerrado. Fim de jogo.
Claro, escrever bem ajuda a otimizar o método, o que dá certa vantagem a profissionais da escrita, mas não garante o sucesso: você pode ser acordado no meio da madrugada por telefonemas ameaçadores ou com alguém esmurrando a sua porta e gritando que você é um cafajeste que acaba namoro por e-mail.
Original aqui
Twitter
A vantagem de expressar por escrito as suas razões tem como contrapartida a responsabilidade de ser cobrado por cada palavra
Nelson Motta, O Globo
“Nunca é fácil separar, então vamos fazer o seu trabalho sujo. Por que se preocupar dizendo adeus ao seu amor? Quem precisa de dor e quem tem tempo? Por que olhar nos olhos dela ou dele? Ninguém quer lidar com toda a gritaria, choro e apelos emocionais de ‘apenas mais uma chance’”.
É chocante, mas tem gente que acredita e paga por isso: um site da Austrália se oferece para acabar namoros por e-mail, SMS ou telefone, por módicos cinco dólares.
Pensando bem, o e-mail não é uma ideia tão absurda assim. Homens têm muita dificuldade de acabar namoros, têm medo de enfrentar mulheres chorando e gritando, ou tomadas por fúria infernal, e vão empurrando com a barriga, arriscando relações paralelas, e às vezes são eles que acabam levando um pé na bunda.
E aí, com o orgulho macho ferido, o otário descobre que aquela é a mulher que quer, e que vai reconquistá-la a qualquer preço, numa receita segura de infelicidade absoluta.
Por que não escrever um e-mail sincero e educado, pensado e refletido, lido e relido, cortado e reescrito, usando a razão para expressar os sentimentos e os motivos que levam àquela decisão? Quanto menor e mais conciso, melhor.
Você tem vários dias para escrever e para pensar antes de mandar, e pode até não mandar. Tem a segurança de ler e reler o que escreveu, de “ouvir” o que você mesmo está dizendo, de poder mudar, de escolher e pesar bem cada palavra para evitar mal-entendidos ou dar margem a dúvidas e ambiguidades que complicam e esticam ainda mais a história.
E, por incrível que pareça, sim, tudo isso pode ser feito com emoção.
A vantagem de expressar por escrito as suas razões tem como contrapartida a responsabilidade de ser cobrado por cada palavra. A pessoa pode ler mil vezes, analisar, entender e sentir o que você diz, e dar o caso por encerrado. Fim de jogo.
Claro, escrever bem ajuda a otimizar o método, o que dá certa vantagem a profissionais da escrita, mas não garante o sucesso: você pode ser acordado no meio da madrugada por telefonemas ameaçadores ou com alguém esmurrando a sua porta e gritando que você é um cafajeste que acaba namoro por e-mail.
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