Opinião

A Alemanha sem energia nuclear

O Estado de São Paulo - Editorial
A decisão do governo alemão de abandonar totalmente o uso da energia nuclear até 2022 foi comparada por ambientalistas entusiasmados à derrubada do Muro de Berlim em 1989. Apesar do exagero da comparação, a medida tomada esta semana pelo governo de coalizão chefiado pela chanceler Angela Merkel representa uma virada histórica notável. O custo da mudança da grade energética nos próximos 11 anos, porém, será pesadíssimo e tem sido comparado ao da reunificação da Alemanha em 1990. Estima-se que foi gasto 1,3 trilhão de euros na reconstrução da Alemanha Oriental. A transformação da infraestrutura energética em todo o país em um período relativamente curto poderá ser mais cara. A indústria já advertiu o governo de que é preciso agir com cuidado para não prejudicar a competitividade internacional da Alemanha e, naturalmente, a massa dos consumidores reagirá a uma grande elevação de tarifas. Como tudo isso será equacionado é uma questão em aberto.

Mas, neste momento, a principal preocupação do governo é a necessidade de dar uma satisfação ao povo alemão, depois da onda de protestos contra a energia nuclear que se seguiu ao desastre de Fukushima no Japão. O governo já havia decidido, em março deste ano, colocar "em hibernação" sete usinas nucleares mais antigas, que deveriam passar por uma inspeção técnica de três meses de duração. Mas ainda mantinha o plano de prolongar a vida útil das usinas nucleares em operação até 2036. Pressionada por integrantes de seu próprio governo e levando em conta os maus resultados de seu partido nas eleições regionais, a chanceler Angela Merkel radicalizou sua política nuclear, alegando que se baseou no parecer de uma comissão de alto nível que vinha examinando questões éticas ligadas à energia nuclear.

Resolveu-se agora que as usinas sob inspeção não voltarão a operar e que outra, em piores condições, será também desativada imediatamente. A decisão do governo deve ainda passar pelo Parlamento, mas há tanta certeza de que será aprovada que o ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, já estabeleceu um cronograma. Das nove usinas restantes, seis serão fechadas até 2021 e outras três no ano seguinte. E não haverá volta atrás, disse ele.

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O nefasto efeito Palocci

Só há uma maneira de colocar um ponto final na crise política provocada pela revelação do prodigioso enriquecimento de Antonio Palocci antes de se tornar o principal ministro da presidente Dilma Rousseff: seu afastamento da chefia da Casa Civil. A exoneração tornou-se iminente a partir do instante em que Palocci desperdiçou a última oportunidade de colocar a situação em pratos limpos, ao não apresentar em sua defesa nenhuma informação nova e relevante nas entrevistas seletivas e tardiamente concedidas na sexta-feira à Rede Globo e à Folha de S.Paulo.

O ministro se limitou a protestar inocência diante das suspeitas de tráfico de influência, negando-se a fornecer qualquer informação ou esclarecimento sobre seus clientes ou sobre a natureza dos serviços a eles prestados. Não fez mais do que deixar no ar um apelo que, nas circunstâncias, soou patético: acreditem em mim.

Os dois argumentos principais apresentados por Palocci em sua defesa são, primeiro, o de que não ficou comprovada nenhuma "ilegalidade" nos fatos que lhe são imputados e o ônus da prova cabe a quem acusa - o que seria correto se a questão fosse apenas jurídica - e, depois, o de que está eticamente impedido de divulgar os nomes de seus clientes porque não pode "expor terceiros nesse conflito". As duas alegações são insubsistentes.

A primeira porque o escândalo assumiu proporções tão graves que, até pela necessidade de dissipar a crise política criada dentro do governo, já havia algum tempo se impunha, para além de qualquer consideração jurídica, a necessidade de que explicações cabais fossem dadas à opinião pública. Era mais do que hora, portanto, de Palocci provar a improcedência das suspeitas que sobre ele pesam. Na mesma linha de raciocínio, o impedimento ético para nomear as empresas às quais prestou serviços se anula diante da maior relevância da exigência de atender ao clamor público por transparência no comportamento de uma figura proeminente do governo.

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