Sexta chuvosa

O fim dos tempos

Sidney Borges
Isaac Newton afirmou que matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Quem me apresentou a Newton foi dona Neusa, competente professora de Geografia do Ginásio Estadual Frei Paulo Luig, em 1960. Decorei a Lei da Gravitação Universal e passei nas provas com louvor, mas só fui entender do que se tratava anos depois, no Científico. A consolidação dos ensinamentos newtonianos aconteceu de fato no cursinho, com as aulas do Ramalho.

Diz a lenda que Newton viu uma maçã cair e teve um instante de iluminação. Saiu correndo, pegou papel e lápis e começou a escrever coisas que mudariam o mundo. Não sei se foi exatamente assim que aconteceu, embora já tenha lido algumas dezenas de versões da vida do notável cientista, o processo de "descoberta" ainda me é misterioso.

Neste final de ano trágico-chuvoso li uma biografia do mestre comprada em Cambridge, numa livraria pertinho do Trinity College, onde Newton fez a graduação a partir de 1661 e permaneceu ensinando e escrevendo seus mais significativos trabalhos sobre Matemática e Física até 1696.

Pois é, nesse livro lido tardiamente fiquei sabendo que após estudar a Bíblia por mais de 40 anos e descobrir revelações ocultas na sagrada escritura, Newton fixou uma data para o fim dos tempos. O mundo vai acabar em 2060.

Confesso que não sou dado a credulidades, na verdade sou cético, mas sendo a previsão da lavra de Newton a chama da desconfiança acendeu-se em minha mente, não digo alma porque não acredito em alma. Abro o jogo: também não acredito em duendes, marcianos e xupacabras. Em políticos honestos eu acredito, existem aos montes. São verdes e têm cabelos azuis. Você certamente já viu algum.

Confrontado com a perspectiva do fim, fiquei lívido, depois, pensando melhor, percebi a triste realidade. Em 2060 terei esticado as canelas há muito tempo, não sou longevo como Oscar Niemeyer e Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, que já deixaram longe os 100 anos.

Certas práticas do grande cientista me surpreenderam, soube que ele teria praticado alquimía para transmutar chumbo em ouro. Enquanto o metal dourado não brotava do cadinho Newton fez cálculos e mais cálculos com a finalidade de determinar o raio de curvatura do inferno.

Como podem ver meus leitores, até os gênios perdem precioso tempo em elocubrações inúteis. Quem disse que o inferno é curvo? Tenho plena certeza que é cúbico, a busca deveria ter sido pela aresta e não pelo raio.

Enfim, ninguém é perfeito.

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