Coluna do Rui Grilo

A contribuição do Lula ao PT

Rui Grilo
Talvez a maior contribuição de Marx seja a criação da dialética, um método para interpretar a história. Simplificadamente, esse método conclui que a evolução da história se dá pelo choque dos contrários, – tese x antítese que resultaria numa síntese, uma situação nova que surge da contribuição dos contrários.

Exemplificando, o pai representaria a tese, e o filho, a antítese. Sempre há choques entre o pai, que representaria os antigos valores e concepções; o filho, l representaria as novas idéias. No choque cotidiano entre ambos, o filho incorporará valores do pai e o pai incorporará os valores do filho, havendo uma mudança de ambos. Hoje, tenho observado que pais e mães, muitas vezes chegam a ofertar camisinhas para filhos e filhas, atitude que seria inconcebível há vinte anos atrás. Há uma maior aproximação de pais e filhos, o que às vezes, torna difícil o estabelecimento de limites e se chega à situações explosivas e fora de controle, com prejuízo para ambos.

O PT teve sua origem da união de forças marxistas e a esquerda cristã. Enquanto os primeiros negavam a existência de Deus e propunham a mudança a partir do confronto, da luta de classes, a esquerda cristã, tem como valor maior o amor ao próximo e a Deus, o perdão e a convivência pacífica. Fruto da união de duas forças com certo grau de antagonismo, foi difícil se afirmar como um partido popular. O próprio Lula disputou a eleição várias vezes antes de se tornar o presidente com maior prestígio popular.

Nesta sexta feira, esteve aqui em Ubatuba, Eduardo Pereira, em seu segundo mandato de prefeito em Várzea Paulista, da região metropolitana de Campinas, tendo sido um dos coordenadores da Frente Nacional de Prefeitos e da Marcha Paulista em Defesa dos Municípios, em 2009. É doutor em educação, tendo realizado estudos em Portugal com o renomado professor Boaventura de Souza Santos. O Edu, como é conhecido, tem uma longa trajetória desde a criação do PT. Atuou durante um longo tempo em cursos de formação de lideranças por todos os cantos do Brasil.

Em sua exposição fez uma análise da contribuição do Lula, que criou novos paradigmas na política. O primeiro foi evitar o confronto direto estabelecendo o diálogo, uma escuta verdadeira do outro mas com seu posicionamento claro e definido . Um diálogo "com lado".Mesmo no poder não deixou de ouvir os movimentos sociais. Também não os criticou, mesmo quando o MST o colocou em saia justa. Foi este paradigma que o levou à interlocução com o Irã e mudou as relações internacionais estabelecendo negociações diretas entre países emergentes, desvinculando-se da tradicional intermediação das ditas grandes potências.

O segundo paradigma foi a relação do Estado com o mercado . Lula inova a fórmula Estado mais mercado ao invés de Estado x mercado.Como exemplo foi citado o BNDES que emprestou dinheiro com juros baixos para os empresários que investissem em áreas e projetos definidos pelo governo como prioritários para o Brasil. Aumentou a capacidade do Estado fazendo com que a Petrobrás e o Banco do Brasil crescessem como empresas.

O terceiro novo paradigma está na próprio exercício da democracia, no combate ostensivo contra a pobreza, no debate das políticas públicas com os mais diferentes segmentos através das conferências nacionais de saúde, comunicação, educação, cidades etc...

O quarto paradigma colocado foi a relação da política com a economia no sentido das tomadas de decisão serem comandadas pelos economistas. Na última crise mundial, Lula ousou ir contra os economistas que pregavam a retração do mercado e estimulou o consumo. Ousou chamar a crise de "marolinha".

Após estas colocações, Eduardo abriu o debate e deixou-nos uma mensagem de que o objetivo maior de se chegar ao poder deve ser a melhoria da qualidade de vida das pessoas e provocar mudanças no mundo. É possível ser um bom governante, é possível gerir bem uma prefeitura, é possível compor com outros partidos sem perder seu "lado", é possível ouvir até aquele empresário mais desonesto sem compactuar, é possível ouvir manifestantes sociais, desde que possamos nos abrir e evitar radicalismos.

Avançar é acreditar no diálogo, que a diferença é importante para que possamos ver a realidade sob seus vários ângulos de possibilidades.

À noite, num papo informal, Edu se mostrou satisfeito com o público e o interesse manifestado, através do nível das questões do debate.

Ele, que está acostumado com debates, disse que em cidades maiores, dificilmente se conseguiria juntar mais pessoas que aquelas que estiveram participando. Mostrou-se otimista com os rumos do PT em Ubatuba e se comprometeu a conseguir mais apoio para que o Partido tenha sucesso nas próximas eleições municipais.

A organização do encontro sinalizou aos participantes que esta atividade foi o início de um processo de formação continuada dos militantes e simpatizantes.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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