Brasil

Assim, nem o positivismo aguenta

Demóstenes Torres
Observados os aspectos isolados dos fundamentos econômicos básicos, o Brasil apresenta resultados aproximados dos prósperos anos 1970. Há aqueles mais apressados entusiastas do governo que vislumbram crescimento a taxas chinesas e vigorosa influência geopolítica brasileira depois que nos intrometemos nos interesses do Oriente Médio. No momento de euforia mesmo as iniciativas atabalhoadas e de efeito inútil podem se afeiçoar de grande providência.

Estariam os Estados Unidos, conforme entendimento ainda mais ufanista, a demonstrar inveja do nosso extraordinário desempenho global, como se fôssemos a mais nova ameaça ao império ianque em desencanto. Certamente estão no melhor juízo as análises que traçam perspectivas auspiciosas à economia brasileira. Como não deve haver ruptura nas ações permanentes de Estado iniciadas há 16 anos com o Plano Real a tendência é de o País avançar, independente de quem seja o novo presidente. Até aqui está tudo certo.

A dúvida se impõe sobre o que será feito para corrigir os nossos defeitos sociais, especialmente no que se refere ao estado de violência e banditismo que impera no Brasil. Em linhas gerais, a economia vai bem e o país vai mal quando aferidos os indicadores de criminalidade. Os números são ainda mais contundentes no que se refere ao que perdemos de riqueza por conta do delito.

Conforme cálculo efetuado pelo Instituto para a Economia e Paz, a violência retira do PIB brasileiro alguma coisa próxima de US$ 101 bilhões. Convertido para o Real, os valores seriam quase nove vezes superiores ao que o governo federal investiu no PAC Orçamentário do ano passado. Os dados da instituição australiana, da maior credibilidade internacional, constam do Indicador Global de Paz (IGP) composto por 23 critérios relacionados à política de administração externa de conflitos e aos problemas potenciais de segurança pública de 149 países.

O Brasil ocupa a 83ª posição e está mal situado no ranking mesmo em relação à América Latina. Se por um lado possuímos a nona economia do mundo com grande possibilidade de saltar para o quinto PIB em uma década, no que se refere à segurança estamos na parte baixa da lista em companhia de países conflagrados e de péssimo índice de desenvolvimento. O que joga o País à lona no rol de critérios são justamente os indicadores de criminalidade violenta, como o número de homicídios, de desrespeito aos direitos humanos e de acesso da população a armas de fogo.

O fato é que o indicador do instituto australiano nos obriga a inferir que o Brasil tem tido um desenvolvimento desigual e absolutamente ilusório quando se percebe não haver a conversão do crescimento econômico em conforto da sociedade. Mais de um século depois o País não consegue honrar o lema positivista da própria bandeira. Estamos a construir a prosperidade em um ambiente de profundo desarranjo social.

Neste sentido cada vez fica mais evidente a falência teórica do argumento de que a violência é motivada primordialmente pela desigualdade de renda. O mesmo governo que comemora a elevação de qualidade de vida do brasileiro, inclusive da composição social de uma maioria de classe média, é incapaz de dar respostas ao problema da criminalidade. Prosperamos, mas prosseguimos sitiados pelo delito. Do novo governo se espera mais pragmatismo contra o crime e menos postulados filosóficos. Interessa muito ao progresso do Brasil fazer respeitar a lei e a ordem. (Do Blog do Noblat)

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

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