Promessas...


Espalhar a riqueza
Diogo Mainardi
O tema da campanha eleitoral americana, na última semana, foi "espalhar a riqueza". Barack Obama, ao ser interrogado por um encanador de Ohio, prometeu isso mesmo: seu governo irá "espalhar a riqueza", aumentando os impostos dos mais ricos e enviando dinheiro pelo correio aos mais pobres. John McCain partiu para o ataque.
Ele repetiu sem parar - em debates, em comícios, em entrevistas -, que a meta da política fiscal de Barack Obama era redistribuir renda. Disse que Barack Obama pretendia transformar os Estados Unidos em algo parecido com um país europeu. Pior: com uma França. Sarah Palin, cumprindo seu papel guerrilheiro, botocudo, foi ainda mais longe: ela associou os projetos de Barack Obama ao socialismo.
Num lugar como o Brasil, em que redistribuir renda é um paradigma que ninguém ousa questionar, o argumento da campanha de John McCain pode parecer uma insanidade. Mas ele colocou direitinho o que diferencia os Estados Unidos do resto do mundo: em vez de espalhar a riqueza, os americanos acreditam apenas em espalhar oportunidades. Dessa maneira, quem for mais competente, quem for mais trabalhador, até mesmo quem for mais sortudo, naturalmente será recompensado. Os americanos - ou, pelo menos, uma parcela deles - estigmatizam a idéia de que o governo deve confiscar a riqueza de quem a produz para distribuí-la aos demais. Por um motivo bastante simples: para eles, um empreendedor que sabe ganhar dinheiro sempre saberá investi-lo melhor do que um burocrata estatal, produzindo mais riqueza e gerando mais empregos. Daqui a dez ou vinte anos, quando formos avaliar o que aconteceu agora, vamos ridicularizar a mesquinhez das análises que atribuíram a crise financeira às hipotecas podres, ou aos juros reduzidos de Alan Greenspan, ou à permissividade regulatória de George W. Bush.
O fato é que, nos últimos anos, a economia mundial passou por uma das maiores reviravoltas de todos os tempos, com a entrada da China e da Índia no mercado de consumo e de trabalho. O resultado é esse aí: precisamos de uma pausa para reajustar valores, moedas e perspectivas de cada país. Os primeiros a sair do buraco? Pode apostar: os Estados Unidos. Desde que eles continuem a rejeitar o conceito de espalhar a riqueza. Desde que ninguém pense em transformar Ohio na Alsácia ou na Bretanha. Barack Obama está para ser eleito. Em primeiro lugar, por causa da crise. Em segundo lugar, porque sua campanha é infinitamente mais rica do que a de John McCain. Ainda bem que a gente pode confiar em seu desarmante oportunismo. Sua primeira medida - cruzem os dedos -, será abandonar espertamente todas as promessas eleitorais. Inclusive a que fez ao encanador de Ohio: "espalhar a riqueza". (Trem Azul)

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