Pensata

O sexo oral

João Pereira Coutinho
Sou fã de "O Sexo e a Cidade". Descobri que era fã numa certa noite de insônia, corria 2004. Liguei a TV, assisti a dez minutos da série e adormeci como um anjo. Fiquei viciado no produto, que viaja comigo para qualquer parte. E quando a insônia regressa, pronta para destruir uma noite de repouso, eu dispenso as pastilhas habituais. Dez minutos com as Spice Girls de Nova York a ruiva, a loira, a morena, a intermédia; nunca tive tempo para decorar os nomes delas e tenho oito horas de sono garantido.
Como explicar o fenômeno? Bom, não sou especialista em neurologia. Mas desconfio que há uma parte do meu cérebro que simplesmente desliga quando existem mulheres a conversar "conversas de mulheres". O meu drama não se limita a séries de tv. Por diversas vezes tombei da cadeira em mesas de restaurante, para pânico das meninas que conversavam em volta. É embaraçoso. E é mais forte do que eu.
Não sou misógino, não sou machista. Com os homens é exatamente a mesma coisa: quatro amigos debatendo "assuntos de homens" futebol, carros, economia, eventualmente mulheres e eu ronco alto. O problema, creio, está nas "conversas de gênero": previsíveis, entediantes, circulares. Serei caso único? Não creio. E há vários anos que defendo "audiobooks" só com homens, ou só com mulheres, conversando os temas habituais entre si. Seriam vendidos em farmácias sem necessidade de receita médica. Não há coisa mais narcótica.
Assim se entende o meu recente ordálio numa sala de cinema. Por motivos de promessa religiosa, assisti a "O sexo e a cidade", versão filme, e posso garantir que teria sido preferível ir a Fátima. O filme pretende fechar a série, retomando o destino das Spice Girls alguns anos depois. A morena está casada e feliz. A ruiva está casada e infeliz. A loira não está casada mas está feliz. E a intermédia, personagem central que narra o destino das outras, quer casar para ser feliz.

Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu