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Editorial - A sobrevida da ficha suja

Jornal do Brasil
O longo debate – e os obstáculos daí enfrentados – sobre a elegibilidade ou não de pessoas envolvidas em delitos, mas ainda sem condenação transitada em julgado, demonstram o quão pedregosa é a trilha que conduzirá o país à mudança ética estrutural na política. Os clamores vêm de todos os lados: de tribunais regionais eleitorais, da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), de tribunais de contas, de juízes eleitorais, de ministros do Tribunal Superior Eleitoral, dos pregadores da boa causa em geral e, acima de tudo, de um eleitor que, embora desesperançado com a política, está ansioso por um resquício de esperança para ver, na prática, a moralização de costumes políticos.
Nem a soma de esforços, porém, tem sido capaz de remover, de imediato, os destroços morais impostos hoje à política brasileira. Se vozes em defesa de mudanças emitem sons intensos, revelam-se igualmente impetuosos os entraves de resistência. O resultado foram alguns reveses da campanha deflagrada, em particular, pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Roberto Wider – a começar pelo entendimento do TSE de que os políticos só podem ter o registro impugnado se houver condenação judicial em última instância. Para os ministros do tribunal, candidatos com "ficha suja" só poderiam ser barrados se o Congresso aprovasse lei complementar com a previsão expressa desse veto, possibilidade hoje considerada remota. Isto posto, não se romperão, por ora, os diques que permitem a detentores de mandatos eletivos freqüentarem com assiduidade as páginas policiais. Uma pena.
Os freios exibidos até aqui, no entanto, não significam que a causa imergiu numa espiral descendente. Ao contrário. Processos de expurgo costumam ser demorados. Exigem esforço, paciência e um dose contínua de bravura. Diferente disso, só o exercício demagógico do oportunismo. É no enfrentamento de normas oblíquas que os costumes evoluem. Assim será com a conquista da moralidade como condição para candidaturas a mandatos eletivos. O importante é que não sejam barrados, por nulidade ou conveniência. Não foi o caso. O movimento atual escancarou a urgência de uma lei de filtragem, capaz de dificultar o banditismo costumeiro da política cabocla, sem ferir a presunção de inocência consagrada na Constituição.

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