Pensata

A delirante guerra do vestibular

Entre todas as coisas caóticas do universo da saudável juventude brasileira o vestibular é a mais irritante, a mais exorbitante das atividades obrigatórias, o mais puro delírio da sociedade em busca de profissionais frustrados para quem teremos que recorrer quando precisarmos. Verdadeiramente, um trauma. Como se não bastasse a escolha precoce de uma profissão, a loucura de ser o que se quer, o que querem os pais que pressionam um futuro brilhante e o que, afinal, é o melhor pra você misturados à pressão mercadológica exercida das diversas formas, até dentro das próprias instituições de ensino, o sistema de realização de avaliação dos candidatos é o mais vil e desfavorecedor possível.
É a época em que ficam todos abitolados, de queixo no peito, azedos e pálidos, mergulhados numa infinidade de apostilas e módulos estúpidos, geralmente contendo tudo de "pincelado" nos assuntos mais freqüentes nas provas e os macetes mais espertos que se possa imaginar! É quase como uma estratégia de guerra: Em tal situação, não esqueça de que a fórmula x poderá salvar sua vida.
Sem contar o terrível clima que se encontra nos cursinhos pré-vestibulares. Porque o terceiro ano do colegial, que deveria preparar em definitivo os alunos para a maligna prova, geralmente não o faz com precisão. É quando se faz necessário o uso dessa nova máquina de dinheiro para os empresários da educação. E não é certo dizer que o público dos cursinhos, em grande parte, é constituído de pessoas que saíram a muito tempo do segundo grau e estão querendo atualizar seus conhecimentos didáticos. Isso acontece sim, mas a grande maioria ainda é de jovens desesperados. As tribos mal se falam porque dentro delas, e é preciso que isso nunca seja deixado de lado, há sempre um concorrente seu, disposto a fuzilá-lo na próxima questão. Aniquilar toda e qualquer proposição 02, 04 e os reticentes inimigos de número par. Muitos dos professores desse tipode instituição incentivam, inclusive, esse tipo de comportamento. Claro, entre as palavras de ordem, salpicam seus bordões, suas piadinhas e o pior de tudo, suas gracinhas para cima das alunas da frente (que muitas vezes estão na frente para isso). É o marketing pessoal, a famosa aula show, os atrativos que fazem o coitado do aluno não enlouquecer em pleno processo.
É claro, óbvio, que não são todos (e todas). Há aqueles professores (e aquelas alunas) que estão ali para o que foram fazer. E falando nisso, que grande palhaçada as tais "pegadinhas" de vestibular. Parece que os elaboradores não têm uma boa noitada há séculos e decidem descontar tudo nas provas, sinceramente. Porque, onde já se viu testar conhecimento através de detalhes descartáveis que são frequentemente cobrados?
Finalmente, chega o grande dia. E é quando o terror está mais presente nos seres sobreviventes do vestibular. Na sala, entram com munição para todas aquelas horas de luta: água mineral, chocolates (porque a glicose, segundo a aula de biologia, ativa o cérebro na produção de energia, ufa!...),sacos e sacos de comidas enjoativas que, já ao meio da prova, tornam-se seu grande inimigo também, ao invés de aliado. Afinal, os horários de ida ao banheiro são determinados, 1 hora sim, 1 hora não. Não se atreva a sentir vontade na hora "não" do banheiro. O companheiro do lado usa a borracha irritantemente, impedindo a concentração para a leitura do texto com aquele barulhinho de atrito papel-látex. Quanto erro para ser apagado! E depois de tudo, a terrível espera pelo resultado. A dor da contagem dos pontos. A dor da reprovação. Até o dia em que um se matar por isso. Bom, para os que passam vivas! Até o dia em que decidem abandonar o curso e recomeçar tudo de novo, em busca da tão distante realização profissional.

Lídia Carla Dourado Gonçalves,
Vestibulanda dos cursos de: artes cênicas, direito, ciências sociais e letras. 18anos.
lidiacarla_@hotmail.com

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