Crônica

Milagres...

Minha avó nasceu na Espanha, na virada do século 19, exatamente no ano de 1900. Nasceu em uma aldeia da província de Cáceres, Torremocha para ser mais preciso. Era uma camponesa medieval, acreditava na igreja, rezava diariamente enquanto assistia ao Povo na TV, de Hilton Franco, que ela imaginava um homem santo. Apesar da reverência ao Vaticano, freqüentava pais de santo, médiuns, jogadores de búzios, cartomantes, videntes, pastores pentecostais e o escambau. Também não dispensava medicamentos, quaisquer que fossem. Tomava os que eram anunciados na televisão, no rádio e alguns especiais, recomendados pelas comadres e pelo farmacêutico, que a informava de novidades. Lembrei-me dela porque foi num dia parecido com o de hoje que fomos assistir ao filme dos milagres do padre Donizetti, de Tambaú. E também foi num dia similar que vimos a santa que apareceu na garrafa de uma vizinha beata. Isto é eu não vi, mas creditei a falta da graça aos maus pensamentos que tinha em relação a uma vizinha mais velha. Minha avó rezava alto cada vez que a garrafa era mostrada da janela. Depois fomos comer pastéis. E tomar caldo de cana. Eu tinha nove anos. Tempo bom.

Sidney Borges

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