Voar

Pensando na vida

Sidney Borges
O ar parece não existir, não nos damos conta dele, mas não só existe como é bastante pesado. A massa de ar contida em uma caixa em forma de cubo (dadinho), com um metro de aresta (lado) é da ordem de 1,2 kg. Ou seja, 1 metro cúbico de ar "pesa" um quilo e duzentos gramas. Quem não tem familiaridade com ciência costuma dizer duzentas gramas, força do hábito, não é correto.

Quando dizemos "a grama" estamos nos referindo àquela plantinha que faz a alegria dos ruminantes. Se estivermos lendo o mostrador de uma balança e a marcação for igual a 200 com um g minúsculo adiante, (200 g) é correto dizer que a massa é de "duzentos gramas". O grama (g) equivale à milésima parte do quilograma (kg), unidade de massa do Sistema Internacional de Unidades. O quilograma-padrão é um cilindro de platina iridiada de 4 cm de diâmetro na base e 4 cm de altura. Está depositado em Sèvres, cidade francesa sede do Escritório Internacional de Pesos e Medidas (Bureau International des Poids et Mesures).

O ar é um fluido e como tal aplica nos corpos nele imersos uma força contrária à ação da gravidade, chamada empuxo. Quando a densidade do corpo imerso é menor do que a densidade do fluido, ele sobe. Assim voam os balões, são mais leves do que o ar. A densidade do ar contido no balão é menor do que densidade do ar que o envolve. É uma boa forma de voar, mas tem limitações que foram determinantes em impedir os românticos dirigíveis de prosperar. Com o avanço de motores e materiais compostos talvez voltem a ser viáveis economicamente.

O homem escolheu imitar os pássaros e através de observação e experimentação dominou a arte de singrar os ares. Voou tarde, a tecnologia necessária à construção de aeronaves mais pesadas do que o ar está à disposição da humanidade desde o Egito antigo, ou até antes. Na Idade Média essa tecnologia sobrava, faltou alguma coisa para que Leonardo da Vinci e outros de seu naipe desenvolvessem planadores.

Penso que faltou método, organização. Uma vez perguntaram ao jornalista Millor Fernandes, autodidata em diversas áreas, tradutor, diretor de teatro, jornalista, humorista e mais alguns istas que me escapam, se sentiu falta de freqüentar escolas formais, ou seja, de ir à universidade. A resposta foi emblemática: "senti falta do método'. Em linhas gerais ele quis dizer que perdeu tempo inventando a roda sem saber que já existia.

Por volta de 1500 existiam materiais para construír planadores de razoável rendimento. Perdemos uns 400 anos da mais pura diversão, voar de planador é das melhores coisas que se pode fazer nesta vida.

Quem matou a charada do vôo foi Otto Lilienthal, com mais de 2000 vôos documentados. Convém lembrar que a tentativa de desatar o nó górdio estava em muitas cabeças, deve ter havido outros que chegaram lá. Quem sabe algum inventor tímido. Ou um egoísta que guardou a descoberta para sí.

Lilienthal nasceu em 1848. Inteligente e determinado construiu planadores a partir da observação do vôo das aves. Com eles decolava de encostas e fazia longos vôos, até que em 1896 estolou e despencou de 17 m, partindo a espinha dorsal e morrendo em seguida. Diz a lenda que suas últimas palavras foram: sacrifícios precisam ser feitos. Pode ser que seja verdade, acho que ele deve ter mesmo é reclamado de dor, mas quem conta um conto costuma aumentar um ponto e, se tiver talento, mais.

Voar era possível, Lilienthal provou isso mais de duas mil vezes. Hoje devemos estar caçando moscas como fizeram nossos antepassados, deve existir alguma forma de aproveitar o campo gravitacional como fonte de propulsão. Um dia alguém descobre. Pena que não estarei aqui para ver e não tenha QI suficiente para ser o descobridor. Morrerei curioso...

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu