Pensata

Alienígena, na própria Terra

Antenor Ricardo Benetti
É incrível a inversão de valores que observamos hoje em nosso País, com o exemplo maior endossado pelo Senado. Pressões, trocas de favores e de interesses e independente do porte dos escândalos, tudo acaba descaradamente, sem que sejam apurados a bom termo. E isso se reflete em todos os níveis de governo e o pior reflete em nossas casas, pois no dia a dia nossos filhos são bombardeados com informações que deturpam os conceitos que oferecemos a eles. Pais éticos e com sentido de moral apurado passam a ser os chatos e idiotas, pois o que se vê a todo o momento são os valores invertidos e o pior, os maus exemplos são sempre bem sucedidos.
E assim recebemos no nosso dia a dia o prêmio por estas más influências e falta de valores morais. Vivo isso no meu dia a dia. Tive a oportunidade na vida de ter um pai presente, altamente ético, justo e nos repassando valores morais do mais alto nível. Tive a felicidade de iniciar minha vida como estudante com professores como Corsino Aliste Mesquita, Cláudio Souza, Ercias Moliterno, Pedro Paulo Skendizel, Joni, Dona Wilma, Prof. Brito, Tia Helô, Dona Wanda, Mauricio Pisciotta, Eliana Algodoal, Dona Ivete e tantos outros que moldaram o que eu sou hoje como pessoa, mais sinto dizer-lhes, meus mestres (a maioria ainda estão entre nós), de que nos prepararam para um mundo hoje irreal. Desde menino sofro e quase me sinto um alienígena e a confusão é tão grande que hoje, aos 44 anos, não sei o que fazer. Nós, principalmente entre os quadros de funcionários públicos, somos raça em extinção. Nós que primamos pela ética, moral, impessoalidade, legalidade, publicidade e eficiência (princípios básicos da administração pública), somos “excluídos”, isolados dos grupos a que pertencemos, pressionados a todo o momento por não cedermos aos seus desmandos e caprichos e se resistimos a todo custo, sofremos na carne o preço desta resistência. Para Chauí, todo ser ético é sujeito moral, para sermos éticos precisamos ter consciência e responsabilidade sobre os nossos atos, precisamos agir conforme a nossa razão de forma ativa e sem se deixar levar pelos impulsos ou opinião dos outros (CHAUÍ, 2004) ou ainda segundo VÁZQUES “A ética estuda uma forma de comportamento humano que os homens julgam valioso e, além disto, obrigatório e inescapável” (VÁZQUES, 2005). Esta semana foi a pior delas, vi e ouvi coisas de todo tipo. E como me defender se você está rodeado e são em maior número, o que hoje é considerado verdade absoluta, já que você é um e eles muitos. É quase como se você estivesse certo e o mundo inteiro errado. Por sorte o meu superior hierárquico também possui valores éticos e morais e embora confuso com tudo que esta acontecendo, creio que o berço sempre falará mais alto. Não satisfaça determinado grupo ou se destaque em qualquer situação e você será “fritado”. Aí, concluo perguntando aos meus antigos mestres, claro que a aqueles que estão entre nós. Devemos mudar nossos conceitos e formas de agir para sermos aceitos por estes grupos ou devemos insistir naquilo que ainda acreditamos, até o fim, onde certamente seremos engolidos e terminaremos nossos dias como seres solitários, porém, íntegros ? ou será que para que tenhamos dias melhores em nossa vida devemos nos corromper um pouco, relaxar um pouco nas obrigações, deixar as coisas “estranhas” acontecerem ao nosso redor, fazendo de conta que não é conosco? E o mais difícil, como mudar se fomos a vida inteira assim ? Um dia achei um carrinho de ferro (tipo matchbox) na rua, e naquela época eu tinha mais ou menos 10 anos de idade, e como era um sonho pra mim inatingível pois era relativamente caro e embora estivesse de frente ao portão de uma casa, o peguei- o levei para minha casa. Tava na rua, pensei eu ! Minha mãe, sempre muito atenta a tudo, perguntou onde peguei aquilo. Disse que achei na rua em frente a um portão. Não preciso dizer que minha orelha doeu por uns três dias e ainda tive que ir a aquela casa e devolver o carrinho e o mais difícil, pedir desculpas. Se fosse nos dias de hoje, uma mãe que fizesse isso estaria sendo processada por “agressão a um menor”, porém, quero dizer que minha mãe hoje tem orgulho de me visitar em minha casa e saber o que me tornei, enquanto outras que não deram atenção a pequenos fatos como o citado, visitam seus filhos em presídios e choram o destino deles. Aguardo a resposta de meus antigos mestres, ou de quem mais quiser me orientar, quanto aos meus questionamentos, pois acho que ainda posso mudar, porém, da mesma forma que tento ser o melhor funcionário público dentro das minhas atribuições e limitações, posso me tornar o melhor dos corruptos, mais acho que vou continuar tendo problemas, desta vez em razão da concorrência.
Ps.:- Meu respeito a todo aquele funcionário público que ainda acredita, nos princípios básicos da Moral, da ética, da transparência, da publicidade e da eficiência, saibam que mesmo que quiséssemos, não nos tornaríamos corruptos, fraudadores ou dilapidadores das coisas públicas, mesmo que seja um simples não cumprindo o horário ou das obrigações, pois se alicerce foi bom, a casa resistirá a tempestades. É por isso que estou me sentindo um alienígena, na própria Terra.

Antenor Ricardo Benetti – Ubatubense desde os 09 anos de idade e há 22 anos no serviço público de Ubatuba e agora alienígena na própria Terra.


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