Opinião

Trump pode se mostrar uma farsa e passar a agir de acordo com o cargo

João Pereira Coutinho
Donald Trump vence as eleições americanas e o mundo inteiro corre para o Google. Segundo a imprensa, eis as frases mais pesquisadas nas últimas 24 horas: "Como posso emigrar?" e "Fim do mundo". Ainda não há notícias sobre suicídios em massa, embora algumas estrelas de Hollywood estejam perto disso. Que fazer?

Existe uma frase inglesa que se aplica ao momento: "Keep calm and carry on". O cenário pode ser melhor do que parece –ou pior. Quem sabe? Precisamente: quando o assunto é Trump, ninguém.

Mas comecemos pelo pior. Jonathan Freedland, no "The Guardian", não poupa as palavras. Aqueles que acreditam que Trump vai mudar –mais moderado, mais "presidencial"– estão errados. A receita populista resultou para vencer a Casa Branca. Por que não continuar com ela, fechando a economia americana à competição internacional, abandonando a Otan ao seu destino ou estendendo uma passadeira vermelha a Vladimir Putin no Oriente Médio e no Leste da Europa?

Além disso, quer o Congresso, quer o Supremo estão em mãos conservadoras. O poder de Trump é, numa palavra, absoluto.

Será? Duvido. Escrevi repetidamente que Trump não tem preparação técnica ou temperamental para ocupar a Casa Branca. Mantenho. Mas é preciso admitir uma possibilidade: o homem pode ser realmente um farsante. Essa, aliás, é a última esperança do mundo: depois de vestir o terno do candidato delirante e grosseiro, Trump veste o terno presidencial e age em conformidade.

Isso significa abandonar certas aberrações –o muro no México, a deportação em massa de 11 milhões de imigrantes ilegais– e escolher uma versão mais moderada do velho Trump.

Até porque, convém lembrar, ele não atua sozinho como um monarca iluminado. O Congresso e o Supremo (com o próximo substituto de Antonin Scalia) podem jogar no campo republicano. Mas isso não significa, necessariamente, que congressistas e juízes são marionetes de Trump.

O Partido Republicano também tem as suas cicatrizes e, para evitar a destruição completa, terá de mostrar trabalho e respeitabilidade.

Se isso não acontecer, então Trump é o menor dos problemas; porque será o próprio sistema de "checks and balances" em plena ruína. E, com ele, a democracia americana.

Uma última palavra para os apoiadores de Trump: Hillary Clinton considerou metade deles 'deplorável'. Errado, sra. Clinton. Trump pode ser deplorável; mas os eleitores são pessoas reais, com medos reais, que comeram o pão que o diabo amassou com a crise de 2008 e fogem da "globalização" (econômica, cultural, demográfica) como o diabo, da cruz.

A solução não está em ignorá-los ou ridicularizá-los –e isso também é válido para a "intelligentsia" acadêmica e midiática que acredita sempre que o populismo é um castigo dos céus.

Não é. Sem responder à fúria dos desesperados, Trump não será uma exceção. Será a regra no Ocidente –e a Europa que se prepare.

Original aqui

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