Coluna do Celsinho

Donald

Celso de Almeida Jr.​

Sobre a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos é bom ouvir quem pensa.

Especialmente, se o pensador for da ativa, inserido no contexto mundial.

Fui às reflexões de Sérgio Amaral, embaixador do Brasil em Washington.

Amaral já foi embaixador em Paris e Londres, serviu na embaixada de Bonn, Alemanha, e na missão permanente do Brasil junto à ONU, em Genebra.

Entre outras atuações de destaque, também foi presidente da Associação dos Países Produtores de Café e do Conselho Empresarial Brasil-China.

Dele, separei alguns trechos de uma entrevista que deu ao jornal Estadão, em julho passado, 4 meses antes da consagração de Trump.

Confira algumas perguntas e suas respectivas respostas:

Se Donald Trump ganhar as eleições norte-americanas, o que muda nos Estados Unidos e na sua relação com o Brasil?
A tradicional administração americana é forte o suficiente para impedir a implantação de ideias ‘estranhas’ que o candidato vem apresentando?

Essas perguntas requerem uma percepção um pouco mais ampla: a análise do novo populismo na Europa e nos Estados Unidos.
O movimento parece refletir algumas coisas.
Uma delas é um esgotamento da democracia liberal, porque os partidos não foram capazes de captar a tempo a crescente insatisfação da sociedade e dar uma resposta.
Há uma crise de representatividade na Europa, onde se vê um conjunto de partidos antieuropeus.
Nos EUA também há uma crise de representatividade porque os partidos políticos esperavam que certos temas fossem absorvidos e não foram.

Como o tema dos imigrantes?

Sim, incluindo o tema das importações, sobretudo provenientes da China, que transferem empregos e estão aguçando um sentimento nacionalista protecionista.

Curiosamente, a Hillary Clinton tem hoje a seu lado o senador Bernie Sanders, que é uma espécie de socialista tardio.

Ele levantou uma série de questões socialistas exatamente no momento em que o socialismo no mundo está acabando.

O populismo, nesse sentido, significa líderes ou partidos que estão tomando lugar dos partidos tradicionais.

Trump fala para os desempregados cujas empresas onde trabalhavam foram fechadas.
Fala para os sindicatos que sofrem a concorrência dos produtos de fora ou cujos associados estão perdendo emprego.

Ele fala de maneira segmentada.

E como unir essas partes? Como unir o protecionismo em um partido liberal, como o Republicano?

De que maneira Trump vai implantar a ideia fantasiosa de fazer um muro entre EUA e México?
Ou proibir a imigração?

É fato que a imigração não se refere só ao imigrante em si, mas também às empresas que precisam de migrantes para serem competitivas.

Acredita que hoje quem não é politicamente correto é visto com bons olhos?
Não há nada mais politicamente incorreto que falar sobre o muro entre Estados Unidos e México, concorda?

Trump dá uma resposta radical, diferente dos partidos tradicionais, que deram respostas que não foram satisfatórias para setores e camadas que estão sofrendo esses problemas.

Pois é, prezado leitor, querida leitora...

Sérgio Amaral viverá, a partir de 20 de janeiro de 2017 - data da posse de Donald Trump - uma experiência certamente marcante em sua brilhante carreira.

Competente, preparado, sabe que a diplomacia americana não será contaminada por eventuais destemperos do presidente.

Afinal, no bastidor, a linguagem é outra.

Nele - em caso de não cumprimento de promessa de campanha - sempre se escolhe algo ou alguém para pagar o pato.

Visite: www.letrasdocelso.blogspot.com

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