Opinião

Enterrar os #malditosfios

Leão Serva
Chegaram as chuvas de verão que tão desesperadamente desejamos nos últimos meses. E vieram com força descomunal, como já se tornou normal com as mudanças climáticas. E o que aconteceu? Árvores caíram, derrubaram fios, bairros ficaram sem luz.

Foi exatamente em um verão desse tipo que passei a publicar nas redes sociais fotos apontando a excrecência da manutenção, em pleno século 21, numa metrópole rica como São Paulo, de #malditosfios que maltratam a vegetação.

Árvores são fundamentais para a qualidade de vida: elas melhoram a composição do ar e o aspecto visual da cidade e produzem sombra nos dias quentes. A diferença de temperatura entre bairros mais arborizados e áreas com pouco verde chega a ser de 7°C no verão.

Mas para a Eletropaulo, distribuidora de energia, para as empresas de telefonia, como a Vivo, e para as de TV a cabo, como a Net e a TVA, as árvores são um estorvo. Seus galhos atrapalham a fiação.

Por isso, são feitas regularmente podas que criam monstrengos vegetais: árvores descaracterizadas, com a copa em V, para os fios passarem no meio; ou desequilibradas, quando os cabos passam todos por um lado só. No médio prazo, esses cortes matam as árvores.

O ideal para a distribuição de energia por fios aéreos é uma cidade sem árvores ou com plantas pequenas e baixas, dessas que cabem em vasos nos apartamentos.

Não é uma questão apenas estética ou ambiental. Estudo feito nos EUA pela associação de empresas de energia elétrica aponta que fios aéreos têm 13 vezes mais rompimentos que os enterrados. Com mais quedas no abastecimento, custam mais em manutenção.

Antes de tomar posse, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse que era favorável a acelerar o enterramento dos fios. Em outubro de 2013, a Eletropaulo apresentou um plano. Mas, desde então, a prefeitura não fez nada sobre o assunto.

A cada ano, durante o verão, fica mais fácil entender por que é necessário enterrar os #malditosfios. Quando chega a estiagem, todos esquecem. E, assim, perdemos mais um ano. Nos últimos dias foram 250 mil pessoas sem luz, moradores "sequestraram" um caminhão da Eletropaulo para ter o abastecimento.

Quem sabe agora o prefeito ponha o processo a andar: nomear a comissão competente; estudar preços; formular um cronograma; submeter as donas dos fios a regras que atendam ao interesse público; harmonizar a legislação local à federal etc. São competências municipais.

A solução pode ser demorada. Mas quanto antes começar, mais cedo acabará.

DA BATATA PRA CIDADE

Moradores de Pinheiros, na zona oeste, deram um presente de aniversário antecipado para a cidade ao enfrentar a proibição da prefeitura e plantar 32 mudas de árvores no largo da Batata.

A praça foi devastada pela obra de reurbanização. Depois de muitos anos fechada, ao ser inaugurada revelou-se um deserto de cimento.

É excelente ver a população manifestando impaciência, além de bom gosto na escolha das espécies plantadas: aroeira, jacarandá, pau-ferro, ipê-roxo e jequitibá-rosa.

A comunidade já havia melhorado a mesma praça em 2013, quando exigiu que um bicicletário fosse inaugurado junto com a estação Faria Lima do Metrô. Pinheiros, um dos bairros mais antigos da cidade, dá assim sinal de que tem uma comunidade dinâmica, melhor do que as autoridades da região.

Original aqui

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