Opinião

Ponto para o Banco Central

O Estado de S.Paulo
A decisão do Banco Central (BC) de elevar os juros de 7,5% para 8% ao ano foi uma boa surpresa numa semana de péssimas notícias econômicas. A pior de todas veio com a divulgação das contas nacionais: no primeiro trimestre o Produto Interno Bruto (PIB) foi apenas 0,6% maior que nos três meses finais de 2012. Poucos analistas haviam projetado um número tão ruim.

Teria sido mais baixo, no entanto, sem a excelente contribuição da agropecuária. Diante do fraco desempenho da indústria e dos serviços, especialistas do mercado financeiro ampliaram, na quarta-feira, as apostas em uma alta de apenas 0,25 ponto, igual à da reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom).

A moderação parecia mais compatível com a orientação seguida nos últimos dois anos, em linha com as opiniões da presidente Dilma Rousseff. Deveria ser, portanto, o caminho mais provável. Essa avaliação foi errada. A autoridade monetária mostrou-se disposta a levar a sério a inflação, apesar da estagnação da economia e de alguns sinais de acomodação dos preços.

Não está claro se o presidente do BC, Alexandre Tombini, teve de convencer a presidente Dilma Rousseff a aceitar uma elevação maior dos juros. Essa hipótese parece muito razoável, quando se considera a experiência dos últimos dois anos, quando a política do Copom coincidiu de forma indisfarçável com as preferências manifestadas pela presidente da República e pelo disciplinado ministro da Fazenda. Seja como for, a alta da taxa básica foi acertada por mais de uma razão.

Ao tomar uma decisão mais dura que a prevista pela maior parte do mercado, o Copom deu um passo para restabelecer a imagem de uma política monetária baseada em considerações técnicas. A presidente Dilma Rousseff pode ter levado em conta a importância eleitoral de uma inflação mais controlada e, portanto, menos danosa à maioria dos consumidores. Mesmo assim, ainda se pode creditar ao presidente do BC um lance vitorioso.

Em segundo lugar, a ação do Copom, embora tardia, indica o reconhecimento da inflação como um problema sério e mais grave do que em geral admitem as autoridades econômicas.

Um dia antes da reunião, o IBGE havia divulgado o Índice de Preços ao Produtor de abril, com alta de 0,35% no mês, muito maior que a de março (0,04%). Além disso, a nova pesquisa apontou aumentos de preços em 18 das 23 atividades acompanhadas e ainda apontou um repique nos alimentos.

Foi mais uma confirmação de pressões inflacionárias ainda difusas - uma prova adicional contra a tese de uma inflação derivada essencialmente do custo da alimentação. Os próprios dirigentes do BC deviam dar pouco ou nenhum crédito a essa versão, embora a endossassem de vez em quando. Ao acrescentar 0,5 ponto aos juros básicos, parecem havê-la enterrado para efeitos práticos.

Em terceiro lugar, indica uma avaliação mais realista dos fatos. Não é necessária uma inflação bem acima da meta de 4,5% para a promoção do crescimento econômico.

Mais que isso: essa inflação dificulta o bom funcionamento da economia, erodindo o poder de compra dos consumidores e reduzindo a capacidade competitiva da indústria. A estagnação do consumo das famílias no primeiro trimestre, apesar do crédito ainda farto, parece comprovar a primeira parte da tese. Além disso, várias sondagens haviam apontado, nos últimos meses, uma redução das intenções de consumo. A inflação era uma das preocupações mais evidentes. A segunda parte é facilmente verificável quando se examina o aumento dos custos de produção.

Por todos esses motivos, a decisão do Copom tende a favorecer a recuperação da economia. Ao contrário de uma crença muito difundida, "um pouco mais de inflação" raramente contribui para a prosperidade. Além disso, a expressão "um pouco mais" é inaplicável ao contexto de um país onde até a meta de inflação (4,5%) já é um exagero. Mas o BC pode realizar apenas uma parte da tarefa. Falta o resto do governo acertar o passo para o Brasil retomar o caminho do crescimento.

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