Opinião

Além dos portos

O Estado de S.Paulo
A aprovação da MP dos Portos pelo Congresso permitirá o combate mais eficaz a um dos mais notórios problemas de logística do País. Mas, se outros obstáculos ao transporte, armazenagem e distribuição de mercadorias não forem combatidos de maneira semelhante, a economia continuará sendo onerada pelas ineficiências de infraestrutura e nossas exportações continuarão perdendo competitividade.

As novas regras para o sistema portuário, que estimulam a competição e os investimentos em modernização e aumento de capacidade, poderão propiciar uma melhora expressiva do desempenho dos portos, por onde passam 95% dos bens exportados pelo Brasil.

Parte dos ganhos obtidos com isso, porém, pode ser perdida se não se assegurar aos produtores rotas adequadas para que sua produção chegue aos portos mais depressa e a menor custo e, sobretudo, se não lhes for garantida a opção de escolha do complexo portuário por onde escoarão sua produção.

Isso exige, além de portos mais eficientes, mais e melhores rodovias e ferrovias, como planeja o governo. Mas é preciso também que o País conte com mais armazéns e silos - não apenas nos complexos portuários, como imaginam alguns membros do governo, mas em diferentes pontos, para que os produtores não sejam compelidos a transformar os caminhões em armazéns ambulantes, como tem ocorrido nos últimos anos, nos picos da safra de soja, por falta de condições de armazenagem, com um custo elevado para todos.

Alguns portos, sobretudo das Regiões Sul e Sudeste são sobrecarregados em determinadas épocas do ano, com a chegada quase simultânea de grande número de caminhões carregados com soja destinada ao mercado externo, enquanto outros registram capacidade ociosa no mesmo período.

Isso ocorre, como mostrou reportagem do Estado (19/5), porque os produtores não dispõem de meios de transporte adequados para fazer seus produtos chegarem aos portos pouco utilizados.

A malha rodoviária em condições de escoar sua produção os obriga, na prática, a procurar os Portos de Santos e de Paranaguá, por onde passam quase dois terços dos grãos exportados pelo País. Os demais 16 terminais em operação na costa brasileira recebem pouco mais de um terço do total.

Isso leva à formação, nas rodovias de acesso aos dois portos que concentram as exportações, de longas filas de caminhão à espera do momento de transferir suas cargas para os navios.

É uma espera longa, que aumenta os custos. "Em outro país, se um caminhão ficasse parado 30 horas numa fila, o dono da carga imediatamente mandaria o veículo para outro porto", disse ao Estado o diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, José Tavares de Araújo Jr. Aqui, não há essa possibilidade.

Para que a economia se beneficie do aumento da competitividade das operações portuárias decorrente das novas regras para o sistema, é necessário assegurar que os usuários possam escolher os operadores, o que significa oferecer-lhes meios adequados para que, a determinado custo, envie sua produção para o terminal que lhes ofertar os serviços nas condições mais adequadas. Ou seja, é preciso ampliar a malha de transportes, por rodovia, ferrovia ou hidrovia, o que exige a execução eficiente dos planos anunciados pelo governo.

É preciso também que, no seu amplo programa de modernização da infraestrutura logística do País, o governo passe a dar atenção à necessidade de aumento da capacidade de armazenagem de grãos.

De acordo com dados da Conab, os armazéns públicos e privados atualmente em operação têm capacidade de estocar no máximo 145 milhões de toneladas de grãos, menos do que o País tem produzido nas safras recentes.

Por isso, parte da produção é deixada na margem de estradas coberta com lonas, enquanto os caminhões não chegam. E estes se tornam silos ambulantes, até que, vencidas todas as barreiras, a carga seja transferida para os navios. O País perde muito com isso.

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