Opinião

A reação dos bancos

O Estado de S.Paulo
É bem-vindo o anúncio dos principais bancos privados do País de redução dos juros em algumas de suas operações. Mas só o tempo dirá se a decisão não passa, como podem suspeitar muitos de seus clientes, de jogada de marketing e de uma tentativa de repor em nível mais alto o relacionamento com o governo, abalado nos últimos dias pelas reivindicações extemporâneas do principal dirigente da associação que os representa.

Sabe-se, até agora, que apenas determinadas linhas de crédito terão custos mais baixos para os consumidores e para as empresas, desde que sejam clientes especiais da instituição ou aceitem transferir para ela as operações que realizam em outras. Não se sabe se isso terá impacto sobre o custo médio dos empréstimos, se será suficiente para estimular o consumo e o investimento produtivo, se haverá oferta suficiente de financiamentos, se a redução será duradoura ou não passará, como já ocorreu, de simples atitude de conveniência num momento delicado para a imagem dos bancos.

Há cerca de duas semanas, cumprindo determinação da presidente Dilma Rousseff - que tem feito críticas duras aos bancos privados por não reduzir os juros dos empréstimos que concedem -, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram o corte de até 78% em algumas de suas taxas de juros. A intenção era forçar os bancos privados a seguir o exemplo dos estatais.

No encontro que teve pouco depois com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir a questão, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, apresentou uma lista de 22 medidas que, no entender dos bancos, contribuirão para reduzir o juro pago pelos tomadores de empréstimos bancários. A maioria das medidas depende do próprio governo, não dos bancos, daí Portugal ter dito, logo após a reunião com Mantega, que "agora a bola está com o governo", o que irritou Dilma.

Há, de fato, componentes do "spread" bancário - a diferença entre o custo da captação de recursos pelos bancos e o custo do empréstimos bancários para seus clientes - de responsabilidade do poder público, como a tributação elevada, a imposição de depósitos compulsórios em proporção elevada e a carência de medidas legais e administrativas que assegurem maior segurança às operações de financiamento.

É inegável, porém, que cabe aos bancos, diretamente, a maior parcela de responsabilidade pelo alto custo dos financiamentos no País. Na média dos últimos anos, de acordo com relatórios do Banco Central, mais de um terço do "spread" é representado pelo lucro das instituições financeiras. Como os bancos estão entre empresas com a maior taxa de lucro no País, o governo entende que eles podem reduzir os juros imediatamente, cortando parte de seus resultados, sem necessidade de outras medidas.

Ao anunciar a redução dos juros de algumas de suas operações para clientes com perfis muito bem escolhidos, de certa maneira os principais bancos privados do País - Itaú, Bradesco, Santander e HSBC - concordam com a argumentação do governo.

Mas o fazem bem a seu modo, anunciando amplamente sua decisão para o público, mas restringindo a concessão de eventuais vantagens para determinadas linhas e para um número limitado de clientes, sob condições muito especiais. Em geral, as operações que ficaram mais baratas sãos aquelas cujos juros estão entre os mais baixos do mercado, como o crédito consignado - garantido pelo salário do tomador do empréstimo -, ou que têm pequena participação nas operações desses bancos, como os financiamentos de automóveis, geralmente oferecidos por bancos ligados às montadoras.

Leia na íntegra A reação dos bancos

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