Impasses herdados

Las Malvinas son argentinas

Sidney Borges
Quase trinta anos depois de guerrear pela posse das Malvinas/Falklands, Argentina e Inglaterra voltam à dissonância. "Las Malvinas son argentinas" diz a presidente Cristina Kirchner enquanto leva a questão da soberania sobre o arquipélago ao conselho de segurança da ONU. Os ingleses continuam a percutir a mesma tecla: os kelpers (habitantes do arquipélago) querem continuar vivendo sob a bandeira britânica. E colocam um ponto final na questão: Não há o que discutir sobre quem é o dono das Falklands.

Napoleão disse um dia que guerra é assunto sério demais para ser decidido por militares. A história mostra casos que comprovam a tese. Vejamos a situação da Argentina em 1992 e como os fatos se desenrolaram no Atlântico Sul, mas antes vamos lembrar como a Índia recuperou Goa, Damão e Diu, em 1961, sem necessidade de confronto.

Goa é o menor estado da Índia, mas o mais rico per capita. Esteve nas mãos dos portugueses por mais de 400 anos, no entanto, em 1961 esta situação parecia anômala, o mundo mudara, colônias tinham saído de moda. A Índia que tinha se libertado do jugo britânico queria a posse integral de seu território.

Portugal agia como faz a Inglaterra hoje em relação às Malvinas/Falklands. O argumento de que os naturais das possessões preferiam a nacionalidade portuguesa dava a Salazar condições de não discutir a possibilidade da soberania mudar de mãos. 

Portugal tinha uma força de 3500 soldados em Goa. Em dezembro de 1961 o "pacifista" Nehru cercou a região com 60 mil soldados, uma frota de caças e bombardeiros de mais de 100 aviões e uma dezena de navios fortemente armados. Embora Salazar tenha dado a ordem de resistir até o último homem a guarnição lusa preferiu render-se. Obviamente foi o melhor a fazer, a desproporção entre as forças era tal que não havia lógica em combater.

Na Argentina de 1992, os argentinos tiveram a ousadia de invadir as Malvinas, mas esqueceram-se de tornar isso um fato irreversível. A operação deveria ter sido preparada para tornar um contra-ataque se não impossível, altamente temerário. Os carniceiros da ditadura argentina eram hábeis em matar e torturar civis, mas mostraram pouca habilidade ao desafiar um inimigo disposto a ir às últimas consequências.

Uma vez feita a invasão a Inglaterra esperou pelos dados dos satélites espiões americanos. Quando viu que as forças argentinas eram pífias, armou uma frota de navios, cruzou os mares e derrotou os bravos hermanos, recuperando a posse das Falklands.

Não vale a pena perder tempo discutindo direitos em um campo onde o direito é a força. A Argentina teve uma excelente oportunidade, não aproveitou, agora não adianta ir ao conselho de segurança da ONU. A Inglaterra não vai ceder. Aos argentinos só resta um caminho. Invadir. Da próxima vez que o façam com determinação, levando para Stanley, ex-Port Stanley, uma tropa de pelo menos 200 mil homens armados até os dentes, construindo pistas para 150 caças de última geração equipados com mísseis exocet e povoando os mares com uma flotilha de 50 submarinos invisíveis a sonares e radares.

E depois, ao ver o tamanho do rombo das contas do país, concluir: pois é, pra quê?

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