Ramalhete de "causos"


Curricando

José Ronaldo dos Santos
Existe uma modalidade de pesca que não é muito divulgada, mas os caiçaras, em ocasiões especiais, a usam. Trata-se de pescar curricando, que nada mais é do que soltar a linhada com a embarcação em movimento.

A linhada, junto ao anzol, tem uma peça metálica que rodopia com a isca devido à velocidade da canoa (ou barco). É assim de propósito; serve para atrair os peixes que preferem iscas em movimento. Também é atrativo o brilho do metal que rodopia. Por isso que, no tempo das anchovas, cavalas, sarambiguaras e outros pescados de igual hábito, os caiçaras curricam. É emocionante pescar no currico! A gente se empolga pelos cruzamentos de linhas, pelos saltos dos peixes prateados há muitos metros da borda.

O que contarei a seguir, eu escutei do Garné, na praia do Cedro (da Ponta Grossa):

Garné e Zeca pararam perto da laje de fora; sondavam cavalas. Soltaram as linhadas, mas nada de fisgada. Então resolveram remar mais para fora, no correr do Boqueirão. A canoa era a “Pau cheiroso”, feita pelo finado Fabiano, da praia da Enseada. Canoa boa, segura. As águas a leste zuniam nas linhadas; logo veio peixe. E dos grandes!

- De repente, vindo não sei de onde –disse-me o Garné – uma senhora lancha passou perto de nós. Quase viramos! Sorte nossa a canoa não ser louca, senão... E continuou:

- O Zeca xingou, mas quem escutou alguma coisa naquela máquina barulhenta? Sabe que a danada foi mais uns quinhentos metros, deu a volta e veio de novo pra cima de nós? Novamente veio aquela maré danada de onda sobre onda, quase virando a nossa canoa. A danada parou há uns dez metros de nós. Achei que aquilo mais parecia uma mansão flutuando. Um bacana vermelho como tomate apareceu na proa e gritou:

- Aqui pega peixe no currico?

- Aí o Zeca, danado da vida que estava porque quase fomos a pique por duas vezes pelo mesmo idiota, respondeu de forma bem malcriada:

- Pega! Pega sim! Pega no currico, pega no cu pobre, pega na puta que pariu!

- Só então o bacana percebeu a besteira que fez. Eu, controlando o balanço com o remo n’água, me desmanchei em risada, enquanto o Zeca continuava emburrado. Esse é o Garné, do Baguari de fora!

Sugestão de leitura: Ser tão mar, de Jorge e Pedro Paulo.

Boa leitura!

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