Coluna do Rui Grilo

Para que serve o mapa da violência?

Rui Grilo
Um mapa é uma representação da realidade e serve para indicar direções, destinos. É como um exame médico que serve para indicar qual terapia, quais remédios empregar. No entanto, se o paciente não tomar porque não tem dinheiro para comprar ou porque não quer ou porque se esquece, não servirá para nada.

Não é isso o que aconteceu com o Jardim Ângela, fato reconhecido até pelo órgão da ONU responsável pela violência. Em um jornal da Globo News foram apresentados os seguintes dados: em 2003 havia 212 mortes violentas por cada 100 mil habitantes o Jardim Ângela era considerado um dos lugares mais violentos do mundo; em 2009 esse número caiu para 41. Foi milagre?

Não. O que houve foi uma intensa mobilização reunindo igrejas de diferentes credos, ONGs e outras entidades da sociedade civil e que forçaram os três níveis de governo a participar na elaboração e execução de propostas para resolver o problema.

Morava na região de Interlagos e os movimentos sociais dessa região tínham bastante contato e, às vezes, atuavam em conjunto. Então, tinha um certo conhecimento das ações que eram desenvolvidas na região.

Quando cheguei em Ubatuba, percebi que a cidade ainda não apresentava índices altos de violência mas era preocupante o avanço do tráfico de drogas e a falta de perspectivas dos jovens. Certo de que é mais fácil prevenir do que remediar, iniciei o Projeto Fundart Jovem que evoluiu para a produção dos Saraus, na Fundart, durante o governo Paulo Ramos. O objetivo desse projeto era viabilizar um espaço para apresentação das bandas e outros músicos e artistas que estavam começando. A possibilidade de se apresentarem num espaço público incentivava ao aperfeiçoamento e proporcionava um espaço de socialização e de lazer gratuitos.

No início da primeira gestão de Eduardo César convidei os membros do Projeto Redescobrindo o Adolescente na Comunidade (RAC) para apresentar sua experiência e lançar o livro que relata essa experiência e que foi financiado pela Telefonica. Esse projeto atende jovens que tenham cometido infrações e cumpram medidas socioeducativas, ou que estejam em situação de vulnerabilidade, isto é, convivam de perto com miséria e criminalidade graves.

Para esse evento, a Prefeitura cedeu uma van para o transporte e o Ubatuba Palace garantiu a estadia da equipe. Acho que eram uns cinco ou sete membros. Achei que a partir dessa experiência poderia se iniciar um trabalho de maior consistência e articulado, mas não foi isso que aconteceu.

Em seguida, trouxe o Ferréz, conhecida liderança do movimento HIP HOP e que fez dois debates: na Escola Estadual Idalina, no Ipiranguinha, com o pátio lotado; e no Deolindo. Essa parceria com o Capão Redondo continua até hoje. Outros grupos de lá já vieram para cá e algumas lideranças daqui participam de eventos lá.

Para Daniel Calazans e Eliomar Pereira, o Mazinho, moradores do Jardim Nakamura, no caso deles, o hip hop venceu a batalha contra o tráfico. "Caretas" convictos, fazem parte da banda Família NK, referência ao bairro onde moram. "Cantando, nosso objetivo é acrescentar pra molecada", diz Mazinho. "Aqui, a gente não tem em quem se espelhar. Com a Família NK, queremos fazer com que a galera tenha orgulho do Jardim Ângela.

Assim, o debate “Políticas Públicas para a Juventude”, realizado no dia 21/02, não é um trabalho isolado. É conseqüência da convivência e da relação professor/aluno e adulto/jovem que busca incentivar o protagonismo juvenil e a articulação e mobilização de toda a sociedade porque, como informa o manual do Curso de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas:

“O desenvolvimento de ações para uma sociedade mais segura não exige o dispêndio de grandes recursos, mas a mobilização intensa a fim de trazer resultados significativos.


UNIDADE 15
Os conselhos comunitários podem ser catalisadores das demandas sociais, com pessoas aptas para detectar e visualizar problemas na comunidade, tomar as providências que se fazem necessárias no seu campo de atuação ou encaminhar a outros órgãos do estado, quando for o caso, para reduzir a violência e a criminalidade associada ao consumo de qualquer tipo de droga (lícita ou ilícita).”
(P.296/297)

E mais uma vez os participantes dos debates puderam perceber a ausência de representantes, tanto do Legislativo quanto do Executivo municipais. Para eles, o Mapa da Violência 2011, que aponta o aumento da mortalidade por homicídio de jovens entre 15 e 24 anos em 39,7% não diz nada porque são incapazes de olhar e fazer a leitura da própria realidade que os cerca.

Rui Grilo
Ragrilo@terra.com.br

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