Coluna do Rui Grilo

Ação e proteção - Como agir?

Rui Grilo
Na sexta (18/03), várias pessoas comentaram sobre a morte da menina e da dificuldade do controle das drogas e do medo que as pessoas têm de denunciar e serem ameaçadas. Essa atitude mostra o desconhecimento que as pessoas tem sobre o encaminhamento de denúncias sem correr riscos, através da denúncia anônima pelo disque 100, em que não há o risco de identificação do denunciante. Também mostra o alto grau de desconfiança nos órgãos policiais.

É sabido que existe corrupção na polícia como existe em outros lugares e vai ser difícil acabar totalmente, mas se ninguém denunciar, a impunidade faz a corrupção se alastrar como uma doença infecciosa. Por causa de alguns, não podemos generalizar e achar que nada vai ter solução.

A ação policial será muito mais eficiente quando a população atuar como parceira, pois é mais fácil um morador constatar um delito ou ato criminoso nos arredores do que a polícia. Em geral, em um grupo de residências sempre alguém estará presente no interior ou na rua. Não há policiais suficientes para patrulhar todas as ruas e o patrulhamento motorizado, além de elevar o custo desse serviço, pode não ter tanto resultado porque o barulho dos motores pode alertar e prevenir aqueles que estejam praticando algo ilícito.

Uma pessoa estava me contando que conhece uma mãe que está na cadeia condenada como cúmplice do marido. Durante muito tempo foi conivente com ele, permitindo que abusasse da enteada (filha dela), permitindo que ele banhasse a filha dela, uma menina de 10 anos. Na escola, a menina relatou à professora que ela tinha uma tatuagem em uma zona íntima do corpo. Também era comum ele assistir filmes pornográficos junto com as crianças. E a mulher sabia disso pois como a porta e a janela ficavam abertas dava para ver o tipo de filme e os diálogos. Somente depois que ele abusou dos filhos de um vizinho é que este o denunciou.

Por esse exemplo, fica muito claro que é muito difícil para a polícia atuar porque envolve crianças e relações entre quatro paredes. Se for o marido que sustenta a casa, ao denunciá-lo a mulher fica numa situação difícil de sobrevivência econômica e, muitas vezes física, porque muitos parceiros ameaçam a mulher no caso dela denunciá-los. Daí a necessidade de casas de apoio e de abrigo, tanto para mulheres quanto para crianças.

Neste caso também se percebe a importância da escola, pois devido à proximidade entre o professor e a criança, muitas vezes a criança se sente segura para contar coisas que não contaria a outros.

Esse caso ilustra bem a necessidade dos educadores conhecerem o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo se tornado bibliografia obrigatória nos últimos concursos para o magistério.

Também ilustra a necessidade de uma ampla rede de profissionais articulados para dar conta das intervenções necessárias para garantir os direitos (professores, assistentes sociais, psicólogos, policiais, juízes, conselheiros tutelares) e impedir que os abusos continuem.

É com este objetivo que o Projeto Ação Proteção vem desenvolvendo a formação de um grupo composto por várias entidades e pessoas que atendem ou que se preocupam com o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.

O próximo passo é a ampliação do grupo envolvendo escolas, igrejas, o comércio e outras organizações da sociedade civil: OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Ubatuba, Associação Comercial, Sindicato dos Hotéis e Pousadas, etc.

Somente com a ação de toda a sociedade poderemos minimizar os problemas que afligem a cidade. Não podemos esperar. Temos que dar os primeiros passos.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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Comentários

Anônimo disse…
Rui,quando falamos de questões sociais (drogas,violência doméstica, pedofilia, etc), o que se vê e um tremendo jogo de empurra-empurra: os educadores culpam a familia, a familia culpa a polícia, que culpa o governo, que culpa...neste jogo, todos nós perdemos.
Será que precisamos de uma "ampla" rede de profissionais? Ou será que precisamos de profissionais que comprometidos com a prática, ao invés da demagogia ?
Não foi dia desses que rolou um escândalo na cidade envolvendo os interessados em participar dos Conselhos Tutelares, Câmara de Vereadores e Prefeitura ? Porquê será que há pessoas tão interessadas no tema ? Preocupações sociais ?
Ubatuba é o paraíso dos projetos, muitos sobre o mesmo tema...resultados de fato, poucos, infelizmente.
Mais do que dar primeiros passos, precisamos seguir caminho, Rui.

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