Ramalhete de "causos"

“Quem resiste a uma ova assada?”

José Ronaldo dos Santos
Fabiana, caiçara da praia da Maria Godói, morava com as outras duas irmãs (Zulmira e Maria) desde que os pais morreram. Ah! Só para informar: a praia em questão está localizada no esporão do Tapiá; o caminho mais curto é pela trilha que sai do condomínio, no canto direito da praia das Toninhas. Vale a pena conhecer essas bandas!

Voltando ao nosso causo, as irmãs eram solteiras e assim continuaram até se findarem. Hoje, quem passa por lá percebe, junto ao rio que está mais para córrego, o local onde era a modesta casa da última geração dos Godói. No barranco, escorrendo para o esquecimento, já encontrei uma diversidade de cacos capaz de contar uma boa parte da história daquelas pessoas.

Quem me relatou este causo foi um casal muito simpático: Chico Cruz e Rita, que, por um tempo, foram vizinhos das irmãs na década de 1950. Hoje são falecidos.

As irmãs eram pescadoras e roceiras conforme todo mundo daquele tempo, onde subsistir era a lei única. Isso quer dizer que comiam, principalmente, peixe e farinha de mandioca. Se você passar por lá com um espírito curioso, poderá achar o velho tarumã que estará até o seu dia final com o buraco da prensa de arataca. Porém, conforme o casal caiçara que me presenteou com tal causo, chegou um dia em Fabiana não quis comer mais nada que se referisse à carne. Não adiantava lhe oferecer um guisado de jacutinga, nem uma panelada de garoupa com banana santomé. Rejeitava mesmo!!! Dizia “que tudo aquilo que palpitasse ou vivesse a repugnava nesse período de sua vida, pois o animal morre com a mesma dor que o homem. E mais: não lhe apetecia digerir agonias”. Neste princípio foi o restante de sua vida.

Mais pessoas, além do referido casal de caiçaras, me falaram da horta das irmãs Godói que “enchia os olhos”. Em torna da casa, nas frondosas árvores, era tralha de tudo: uma diversidade de carás, chuchus, pepino e café-feijão. (Uma pergunta: você já experimentou esse café?). Dos morros, nos aceiros das roças, retiravam os palmitos da jissara quando queriam variar do palmito de caraguatá. Só de uma coisa a Fabiana não conseguiu se libertar: nunca conseguiu dizer não a uma ova de tainha assada. É isso: como apagar uma parte da alma caiçara?

Sugestão de leitura: As quatros vozes, de Rabindranath Tagore.

Boa leitura!

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