Ramalhete de "Causos"

Pau cheiroso

José Ronaldo dos Santos
Em certa ocasião, na praia da Enseada, vindo de uma pescaria com o meu pai, vivi uma oportunidade única: escutar o velho Henrique, o Fabiano e o Bráulio contarem causos de canoas.

O velho Henrique, na ocasião, trabalhava na guarita da entrada da praia para impedir que os carros ficassem passeando pela areia, no lagamá; Bráulio era caseiro de um ricaço, no Canto da Bá; Fabiano fazia canoas. O comum a todos: eram caiçaras, adoravam conversar e sempre estavam combinando pescarias. Meu pai, grande amigo deles, também tinha tais características. Foi ele que começou falando de canoa; disse que ficou impressionado por uma delas na praia do Puruba, cujo nome era Sacrifício, devido o trabalho que deu para trazer de onde foi cortada a timbuíba até chegar no rio da Escorregosa, no sertão do Cambucá, para depois navegar por toda a baixada do Puruba até o rancho, na boca do rio. Em seguida, o Bráulio, da família Rocha, explicou o nome da sua embarcação. Tinha o nome de Meu bem querer por escolha de sua companheira, representando o amor que os unia. O Dito Henrique, já bastante idoso, devia ter inúmeros causos de canoa, mas contou de uma lá da praia da Fortaleza. Tratava-se de uma canoa rombuda, curta e grossa, de capurubu, com um mínimo de acabamento, “feito só no machado” conforme expressão usada nesses casos. Porém, era uma canoa própria para cargas. O nome dela: Cu grande, cujo dono a era o Genésio, do velho Armiro, “um homem de coração tamanho do mundo”. Por isso que, sempre que alguém tinha uma boa carga, logo dizia: “Vou na Cu grande do Genésio; só ali cabe uma montoeira de coisas”. E ele emprestava prontamente a canoa que mais podia ser chamada de Feiosa, conforme conclui o velho Henrique. Finalmente, o Fabiano, pai do nosso amigo José Carlos Góis, que terminava uma canoa uma canoa feita de canela-bosta, lá no Morro do Funhanhado, disse:

- Depois de ouvir vocês me inspirei para dar nome à minha canoa. No mês que vem, por ocasião da pegadeira de peixe-porco, ela romperá a arrebentação das ondas com o nome de Pau cheiroso.

Todos riram e concordaram que era o nome mais apropriado nesse caso.

Sugestão de leitura: O chalaça, de José Roberto Torero

Boa leitura!

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