Opinião
Portos e aeroportos defasados
Editorial do Estadão
Trazer uma carga da China ao Brasil pode tomar menos tempo que a liberação da mercadoria num aeroporto brasileiro. O embarque de produtos para o exterior também é travado pelo congestionamento de portos e aeroportos, sem espaço e sem condições técnicas e administrativas de dar suporte a exportações e importações. Superada a crise, a economia voltou a crescer e aumentou velozmente a corrente de comércio internacional - vendas e compras. O valor acumulado em 2010, até a semana passada, foi 33,9% maior que o de um ano antes. Entre 2000 e 2008, o montante em dólares cresceu 224,3%, mas exportadores e importadores tiveram de vencer dificuldades cada vez maiores nos transportes, para tentar acompanhar o ritmo da globalização comercial.
Reportagens publicadas no Estado no domingo e na segunda-feira mostraram como os gargalos formados em portos e aeroportos consomem tempo e dinheiro, reduzindo perigosamente a eficiência e a competitividade das empresas brasileiras.
Segundo o diretor para mercado internacional da Marcopolo, Paulo Andrade, os produtores brasileiros passam por um momento crítico e perdem mercado para os concorrentes da Ásia, favorecidos por uma logística melhor e custos menores. A Marcopolo fabrica ônibus e exporta 35% de sua produção.
O frete do Brasil para a América do Sul é mais caro que o transporte da Coreia para o México ou para o Chile, informa a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), citada no jornal.
Indústrias com portos privados - caso da Ford na Bahia - conseguem evitar o congestionamento e a lentidão dos embarques e desembarques. Empresas dependentes de portos públicos enfrentam filas para movimentar seus produtos, porque os terminais carecem de equipamentos, de pessoal e de espaço. Transportar mercadorias por milhares de quilômetros de rodovias pode ser uma alternativa preferível, quando o intercâmbio é com países sul-americanos. Essa é a escolha da Fiat para transportar veículos entre fábricas brasileiras e argentinas, na ida e na volta.
Infraestrutura - incluído o sistema portuário - é um item de grande importância na agenda proposta pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aos candidatos à Presidência da República. Um dos principais obstáculos à ampliação e à modernização de estradas, portos e outras instalações é a burocracia. Entre a decisão de realizar a obra e o início dos trabalhos são consumidos em média 38 meses, segundo tabela publicada no documento entregue aos candidatos.
"A superação das deficiências do setor depende da efetiva participação do setor privado no investimento e na gestão dos serviços", de acordo com os dirigentes da indústria. Mas "a maior participação do capital privado na infraestrutura exige o aperfeiçoamento do marco regulatório, das estruturas de gestão e do planejamento setorial". O mecanismo das Parcerias Público-Privadas (PPPs), lembram os autores do trabalho, pouco avançou no Brasil.
Os dirigentes da indústria poderiam ter lembrado, na elaboração da agenda, também o aparelhamento e o enfraquecimento das agências de regulação, nos últimos sete anos e meio. Desde o início, em 2003, houve uma clara decisão política de centralizar as decisões econômicas e de sujeitar a cooperação com o setor privado a um projeto de poder.
A insuficiência de investimentos na infraestrutura é explicável principalmente por essa decisão política. O setor privado poderia ter proporcionado a maior parte do dinheiro necessário, se o governo houvesse mantido um ambiente propício à sua participação. Mas o governo preferiu o caminho oposto, evitando, por exemplo, um ambiente de regras seguras e bem definidas para o planejamento de longo prazo.
Leia mais
Twitter
Editorial do Estadão
Trazer uma carga da China ao Brasil pode tomar menos tempo que a liberação da mercadoria num aeroporto brasileiro. O embarque de produtos para o exterior também é travado pelo congestionamento de portos e aeroportos, sem espaço e sem condições técnicas e administrativas de dar suporte a exportações e importações. Superada a crise, a economia voltou a crescer e aumentou velozmente a corrente de comércio internacional - vendas e compras. O valor acumulado em 2010, até a semana passada, foi 33,9% maior que o de um ano antes. Entre 2000 e 2008, o montante em dólares cresceu 224,3%, mas exportadores e importadores tiveram de vencer dificuldades cada vez maiores nos transportes, para tentar acompanhar o ritmo da globalização comercial.
Reportagens publicadas no Estado no domingo e na segunda-feira mostraram como os gargalos formados em portos e aeroportos consomem tempo e dinheiro, reduzindo perigosamente a eficiência e a competitividade das empresas brasileiras.
Segundo o diretor para mercado internacional da Marcopolo, Paulo Andrade, os produtores brasileiros passam por um momento crítico e perdem mercado para os concorrentes da Ásia, favorecidos por uma logística melhor e custos menores. A Marcopolo fabrica ônibus e exporta 35% de sua produção.
O frete do Brasil para a América do Sul é mais caro que o transporte da Coreia para o México ou para o Chile, informa a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), citada no jornal.
Indústrias com portos privados - caso da Ford na Bahia - conseguem evitar o congestionamento e a lentidão dos embarques e desembarques. Empresas dependentes de portos públicos enfrentam filas para movimentar seus produtos, porque os terminais carecem de equipamentos, de pessoal e de espaço. Transportar mercadorias por milhares de quilômetros de rodovias pode ser uma alternativa preferível, quando o intercâmbio é com países sul-americanos. Essa é a escolha da Fiat para transportar veículos entre fábricas brasileiras e argentinas, na ida e na volta.
Infraestrutura - incluído o sistema portuário - é um item de grande importância na agenda proposta pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aos candidatos à Presidência da República. Um dos principais obstáculos à ampliação e à modernização de estradas, portos e outras instalações é a burocracia. Entre a decisão de realizar a obra e o início dos trabalhos são consumidos em média 38 meses, segundo tabela publicada no documento entregue aos candidatos.
"A superação das deficiências do setor depende da efetiva participação do setor privado no investimento e na gestão dos serviços", de acordo com os dirigentes da indústria. Mas "a maior participação do capital privado na infraestrutura exige o aperfeiçoamento do marco regulatório, das estruturas de gestão e do planejamento setorial". O mecanismo das Parcerias Público-Privadas (PPPs), lembram os autores do trabalho, pouco avançou no Brasil.
Os dirigentes da indústria poderiam ter lembrado, na elaboração da agenda, também o aparelhamento e o enfraquecimento das agências de regulação, nos últimos sete anos e meio. Desde o início, em 2003, houve uma clara decisão política de centralizar as decisões econômicas e de sujeitar a cooperação com o setor privado a um projeto de poder.
A insuficiência de investimentos na infraestrutura é explicável principalmente por essa decisão política. O setor privado poderia ter proporcionado a maior parte do dinheiro necessário, se o governo houvesse mantido um ambiente propício à sua participação. Mas o governo preferiu o caminho oposto, evitando, por exemplo, um ambiente de regras seguras e bem definidas para o planejamento de longo prazo.
Leia mais
Comentários