Opinião

Dengue avança em São Paulo

O Estado de S.Paulo
Com 6.005 casos de dengue registrados entre 1.º de janeiro e 21 de maio na cidade de São Paulo, foi batido um recorde absoluto e surpreendente: em menos de cinco meses foi superado o total até então recordista de incidências do ano inteiro de 2010, com 5.866 registros. Uma mulher de 33 anos, residente na Capela do Socorro, zona sul da capital, foi a quinta morte de 2014, tendo as quatro outras ocorrido nos bairros de Jaguaré (zona oeste) e Tremembé (zona norte). No ano passado, foram registradas duas mortes causadas pela doença.

O recorde e o aumento da letalidade contrariaram as expectativas do Ministério da Saúde, anunciadas há dois meses no Levantamento do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Lira), conhecido como "mapa da dengue". Em março, a autoridade sanitária federal divulgou a redução nos registros da doença no País de 477,7 mil nos meses de janeiro e fevereiro do ano passado para 87,1 mil nos dois primeiros meses deste ano - queda de 82%. O otimismo foi fortalecido pela redução ainda maior dos casos graves, que preocupam mais as autoridades: de 2.621 no ano passado para 420 em 2014, ou seja, de 84%. "Mais importante que a redução dos casos e a dos casos graves é a redução da letalidade, casos que evoluíram para óbitos, que caiu 95%", comemorou o ministro da Saúde, Arthur Chioro. Em janeiro e fevereiro de 2013 morreram 192 brasileiros. No mesmo período deste ano, quando esses dados positivos foram divulgados, o ministro advertiu: "Não podemos relaxar. Estamos no meio do ciclo. É fazer uma comemoração e seguir em frente". A advertência prudente, contudo, não evitou que a doença avançasse na maior cidade do País.

O total de casos registrados pelas autoridades sanitárias na capital paulista em quatro meses e meio foi o triplo de igual período e quase duas vezes e meia o número do ano inteiro de 2013 (2.617). Foi ainda bem maior do que o número de atendimentos de conhecimento da Secretaria Municipal da Saúde em 2012 (1.150) e 2011 (4.191). O pior de tudo é que o avanço inesperado da doença em São Paulo continua se acelerando: a Secretaria informou que na semana passada as notificações cresceram 17,9% em relação à última, alta superior à registrada no balanço daquela semana em relação à anterior, que tinha sido de 13%.

Outro indício preocupante da progressão é que a transmissão da dengue pelo mosquito Aedes aegypti ocorre em todo o Município, tornando mais difícil o combate a ela: dos 96 distritos, houve transmissão em 93. Desses, 27 têm nível de transmissão em alerta e 4 estão em nível de emergência. A situação é mais grave nos bairros de Jaguaré (844 casos), Rio Pequeno (425), Lapa (395) e Tremembé (347). A Prefeitura garante, de acordo com reportagem de Fabiana Cambricoli, do Estado, que o avanço progressivo e generalizado da doença está exigindo de suas equipes de agentes de saúde ações de combate aos criadouros de mosquito pela cidade inteira. A Secretaria Municipal da Saúde promete entregar até imediatamente informações e equipamentos para dizimar criadouros e nebulizar ambientes infestados em 13 subprefeituras das zonas leste e norte. A administração municipal promete vistoriar 3 mil imóveis na zona oeste até terça-feira.

O reconhecimento pela secretaria municipal paulistana da gravidade da situação em São Paulo põe em xeque a avaliação do Ministério da Saúde quando divulgou os índices positivos do "mapa da dengue", em março. Segundo as autoridades federais, as boas perspectivas anunciadas há dois meses atestariam a melhoria dos serviços de saúde e do monitoramento da dengue. Mas num verão atípico, em que a estiagem reduziu o armazenamento de água do Sistema Cantareira a níveis inquietantes, a transmissão da doença se acelerou a ponto de chamar a atenção para a ineficácia do combate ao mal e para a incapacidade de previsão de quem o realiza. Ou seja: o desafio de educar a população, cujos hábitos indissociáveis de sua rotina facilitam a proliferação do mosquito transmissor, não foi vencido. Não estaria, então, na hora de rever a avaliação e as estratégias?

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