Opinião

A crise da laranja

O Estado de S.Paulo
A produção de laranja, notadamente em regiões tradicionais de cultivo da fruta no Estado de São Paulo, passa por um período de transformação em consequência direta da queda do consumo do produto no mercado internacional, com reflexo nos preços. O mercado interno de suco de laranja industrializado absorve apenas 2% da produção. Cálculos da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus-BR) indicam que o volume bruto da matéria-prima processada pela indústria para a exportação de suco de laranja caiu de 1,150 milhão de toneladas em 2011 para 1,096 milhão de toneladas em 2012, o que significa uma queda de 4,7%, equivalente a 40 milhões de caixas de laranja de 40 kg.

Essa retração pode ser atribuída, em parte, à crise na Europa, o principal mercado do produto, e à recuperação ainda fraca das economias dos EUA e do Japão. A queda é efeito também de uma progressiva mudança de hábitos de consumo nesses países. Pesquisas revelam que cada alemão hoje consome 14 litros de suco de laranja por ano, 25% menos do que há oito anos. No Japão, a retração foi de 30% e nos EUA, de 28%. Com isso, há grandes excedentes nos pomares, com muita fruta apodrecendo por falta de compradores. Em muitos casos, os produtores acabam arrendando suas terras para o cultivo de cana-de-açúcar, como relata reportagem do Estado (20/1).

Outro fator que limita os preços são os estoques existentes de suco. Apesar de o governo ter prorrogado o Lote Econômico de Compras para retenção até junho de 2014 para cerca de 311 mil toneladas, os estoques ainda são elevados. O Centro Avançado de Estudos de Economia Aplicada Esalq/USP, estima que o estoque de passagem da temporada fique em torno de 300 mil toneladas em junho de 2013, se as vendas externas e domésticas forem em média de 1,2 milhão de toneladas.

O consumo, porém, pode voltar a crescer, segundo especialistas. Uma campanha tenaz de produtores de bebidas concorrentes tem sido movida contra o suco de laranja, propagando mundo afora que o produto tem calorias demais. A indústria já preparou uma contracampanha para desmentir essa alegação e se prepara para lançá-la no mercado internacional. No mercado interno, algumas medidas já tomadas, como incluir o suco na merenda escolar, ajudam, mas é preciso também incentivar o brasileiro a tomar mais suco integral, em vez do néctar hoje mais comum, em que metade do produto é composto de água e açúcar.

Considera-se também que há necessidade de renovar os pomares, muitos dos quais têm mais de 20 anos e não recebem tratos adequados. Assim, tem sido elevada a incidência de greening, a doença mais grave das que afetam os laranjais em razão da dificuldade de controle e de sua rápida disseminação, com efeitos altamente destrutivos. A solução muitas vezes é a erradicação de pomares, mas isso também tem um custo alto. Para os produtores, é mais fácil arrendar as terras para cultivo de cana, ficando o arrendatário responsável por essa despesa.

Além disso, novas áreas têm sido abertas para o cultivo de laranja, empregando mais tecnologia, o que resulta em maior produtividade e menores custos. Como sustenta um técnico da Citrus-BR, o importante agora é não olhar para trás e encarar o futuro com base em um diálogo que abranja toda a cadeia produtiva. As disputas internas no setor são a dificuldade maior para definir uma linha de ação, afirma. As indústrias defendem o fortalecimento do Consecitrus, órgão inspirado no Consecana, do setor sucroalcooleiro, que pode servir de fórum para discussão dos problemas do setor e pelo menos amenizar os dissídios entre produtores e processadores industriais de laranja.

A ideia vem ganhando cada vez mais aceitação. O presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antonio dos Santos, está organizando para breve uma reunião para convencer os produtores das vantagens do Consecitrus. O órgão, funcionando com absoluta transparência, como se pretende, pode ser "a única saída", como disse Santos, para evitar que o setor fique dependente de benesses do governo, sempre instáveis.

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