Opinião

Plano de saúde deixa a desejar

O Estado de S.Paulo
Estudo divulgado pela Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que 72% dos usuários dos planos de saúde que recorreram a prontos-socorros no Estado de São Paulo, nos últimos 24 meses, enfrentaram problemas com superlotação e longas esperas em hospitais. Destes, 15% disseram que acabaram buscando atendimento no SUS. A proporção sobe para 77%, se considerados os usuários que relataram alguma dificuldade no atendimento pelos planos, segundo a pesquisa feita pelo Datafolha.

A demora para conseguir marcar consultas médicas não chega a ser novidade. Mas o caso de quem vai ou é levado para um pronto-socorro é mais grave, porque não pode deixar de ser atendido rapidamente, pela própria natureza de seu caso, em hospital público ou privado. Se paga plano de saúde - com sacrifício, mesmo quando parte da mensalidade é bancada pelo empregador -, é porque não quer ficar sujeito ao tratamento tardio e negligente que os hospitais públicos, com honrosas exceções, dão aos que os procuram. Se um grande número de pessoas se vê obrigado a recorrer ao SUS por causa das deficiências dos hospitais particulares a que tem direito pelos seus planos, isso comprova que há um grave congestionamento no sistema de saúde em São Paulo. Se esta é a situação no Estado que concentra o maior número de hospitais, pode-se imaginar o que ocorre em outras partes do País.

"Os planos de saúde acabam por impor a mesma dificuldade que o SUS no acesso à saúde", disse Florisval Meinão, presidente da APM ao Estado (18/8). Em seu entender, entre as principais causas das deficiências gritantes dos planos estão a sobreposição (muitos convênios em poucos hospitais) e grande rotatividade dos médicos por causa da baixa remuneração. Nos dois casos, isso está ligado aos valores que as operadoras têm de desembolsar para garantir um bom número de hospitais bem equipados para os usuários e ao que têm de gastar para reembolso de consultas. Segundo a APM, a maioria dos médicos paulistas recebe entre R$ 50 e R$ 60 por consulta das operadoras, mas há quem ganhe apenas R$ 25. A reivindicação da APM é que o pagamento mínimo pelos convênios seja de R$ 80 por consulta.

Como seria de esperar, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), que congrega as operadoras, diz que o quadro descrito não representa a realidade do setor. Lembra ela que a própria pesquisa da APM revela que 69% dos entrevistados se declaram satisfeitos ou muito satisfeitos com o atendimento proporcionado, em geral, pelos seus planos de saúde. A Abramge também menciona uma pesquisa feita sob a responsabilidade do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS) em 2011, na qual 80% dos entrevistados, em todo o País, se pronunciaram de forma semelhante.

Vale notar que a última pesquisa mencionada, como se verifica pelo site do IESS, também realizada pelo Datafolha, não se refere aos prontos-socorros, que, como reconhece o sindicato estadual dos hospitais privados (Sindhosp), estão com a taxa de ocupação acima do recomendável. Além dessa entidade e da APM, o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo afirmam que as operadoras de planos de saúde elevaram muito o número de beneficiários sem ampliar, de forma proporcional, as redes credenciadas. Este é um ponto importante. Essas entidades recomendam que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) controle essa expansão. "Uma companhia aérea não pode vender mais lugares do que existem no avião", compara Aloísio Tibiriçá, diretor do Conselho Federal de Medicina.

Pode-se concluir que há uma espécie de overbooking nos prontos-socorros paulistas. Nessa situação, o pior que poderia acontecer agora para os usuários seria uma nova paralisação dos médicos que atendem pelos planos, como a realizada em 6 de setembro, em protesto contra as condições de trabalho e a sua remuneração. Se isso ocorrer, quem não tiver recursos para pagar um médico ou hospital particular será obrigado a engrossar as filas do SUS.

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