Opinião

Mercados esquizofrênicos

O Estado de S.Paulo
Especulação e comportamento de manada continuam dominando o dia a dia das bolsas no meio da crise global. Isso foi comprovado mais uma vez no começo desta semana, quando os mercados caíram num dia, como se a Europa estivesse derretendo, e subiram no dia seguinte, como se a salvação houvesse chegado durante a noite. Mas a crise europeia continua hoje tão grave quanto ontem e anteontem e os sinais positivos surgidos nos últimos seis meses são ainda informações relevantes. Nenhuma novidade fundamental surgiu no fim de semana ou nas primeiras horas de segunda-feira. A recessão espanhola foi apenas confirmada pelos números divulgados oficialmente, mas ninguém ignorava a gravidade da situação. O impasse na Holanda em torno do orçamento era conhecido. A queda do governo foi apenas um desdobramento da queda de braço com a oposição. Quanto às dificuldades eleitorais do presidente francês, haviam sido apontadas por numerosas pesquisas e por muitas análises competentes. Na terça-feira, as bolsas fecharam em alta, depois da divulgação dos ganhos dos bancos e da rolagem satisfatória de títulos da Espanha, da Itália e da Holanda. Se tudo ia tão mal no dia anterior, por que os compradores de papéis públicos se mostraram tão cooperativos e tão dispostos a refinanciar governos endividados?

Esse tipo de comportamento tem sido normal, em todos os mercados, e ninguém deveria tomar o sobe e desce das cotações como um indicador de melhora ou piora do quadro econômico. Para o senso comum, as condições de rolagem da dívida pública deveriam ser mais reveladoras, mas nem isso tem sido confirmado pelos fatos do dia a dia.

Mas há algo mais nos mercados que a tradicional combinação do jogo especulativo com o espírito de manada. Pode-se descrever de outra forma o sobe e desce das cotações e a rápida sucessão de momentos de entusiasmo e de medo. Há uma dose de esquizofrenia, como observou na semana passada o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Os mercados pressionam os governos por uma rápida consolidação fiscal, mas reagem de forma adversa quando a consolidação reduz o crescimento econômico. Isso complica tremendamente a execução do ajuste indispensável aos países mais afetados pela dívida pública. No caso da Europa, as decisões dos governos são especialmente difíceis, tanto pela pressão dos mercados quanto pela urgência de conciliar o ajuste com medidas para a retomada do crescimento. Até aqui, as políticas de austeridade permitiram reduzir os déficits orçamentários, embora nem sempre na proporção desejada. Para a média dos 27 países da União Europeia, o déficit fiscal ficou em 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2011, com significativa redução desde 2009, quando o rombo chegou a 6,9%. Para os países da zona do euro, o corte foi de 6,4% em 2009 para 4,1% no ano passado. O endividamento cresceu, mas isso era previsível e a tendência só deverá mudar dentro de alguns anos.

Em 2011, os cinco países com maiores déficits foram a Irlanda (13,1%), a Grécia (9,15), a Espanha (8,5%), o Reino Unido (8,3%) e a Eslovênia (6,4%). O aperto funcionou, de modo geral, e alguns governos tentam aumentar o arrocho, às vezes com sérias dificuldades políticas. Na Holanda, o governo caiu, embora o desemprego, estimado em cerca de 5%, seja bem menor que o de vários outros países. Na Espanha, o último dado aponta 23,6% de desocupação. A média da União Europeia é de 10,2%. A da zona do euro, 10,8%.

Leia na íntegra Mercados esquizofrênicos

Twitter

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu