Reflexões caiçaras


Onde era o jundu?

José Ronaldo dos Santos
Já se passou um bom tempo desde 1972 quando, motivados pela história do levante dos presos da Ilha Anchieta, fomos (alunos da escola do Perequê-mirim) ouvir depoimentos dos caiçaras mais antigos pelos arredores. Um deles foi o seo João Glorioso, dono de um armazém no Saco da Ribeira. Na semana passada voltei a esse lugar para escrever as reflexões do presente. Nessa praia, na atualidade ubatubense, é onde se constata a maior alteração no ambiente natural. É “um prato cheio” para os geógrafos trabalharem a geografia natural e a geografia humana!

Nada mais lembra aquela praia tranquila, onde, na maré baixa, jogávamos futebol. Quando a maré estava alta, só restava um campinho de areia barrenta no meio da restinga. Ou era brejo? Oficialmente, aquele era o campo do time do bairro: o Recurso Futebol Clube, de uniforme rubronegro, sob o comando do Paulo “Sabão”.

Naquele tempo, devido às características do fundo marinho, era notório a grande quantidade de siris. Por isso que, das praias vizinhas, no serão, acorriam tantas pessoas. Quem rejeita uma panelada de siris? Outra coisa que chamava a atenção de todos era o intenso movimento na marcenaria naval da colônia dos japoneses.

A colônia dos japoneses é um capítulo à parte: trabalhavam unidos e divertiam-se no mesmo princípio. Unidos permaneceram por muito tempo. Até campeonato nacional de sumô trouxeram ao município em meados da década de 1970. Jovens japoneses desta praia, concorrendo em diversas categorias, muito nos orgulharam nesse esporte. Mais tarde, a prosperidade da ilha-mãe, somada à crise na economia brasileira, desarticulou o invejado grupo.

Em 1978, com a construção do píer da Sudelpa (Superintendência para o desenvolvimento do litoral paulista), o desembarque pesqueiro foi transferido do Cais do Porto (Itaguá) para o Saco da Ribeira. Pronto! Nasceu a base do desenvolvimento náutico incontestável dos dias atuais!

Quantos empresários!? Quantos marinheiros!? Quanto de tecnologia ocupa o antigo espaço da areia e do jundu!? Porém, apesar de tudo isso, ordeno aos meus filhos:

-Fundeiem os pés nessas águas para assim se unirem aos nossos ancestrais que nas adversidades da natureza encontraram recursos e criaram condições para viverem entre a serra e o mar; se fizeram caiçaras e nos legaram um ambiente puro. Daqui em diante depende de nós!
 

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