Opinião

Crescimento mais lento

O Estado de S.Paulo - Editorial
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desempenho da economia brasileira no último trimestre de 2010, e que mostrarão quanto ela cresceu no ano passado, só serão conhecidos dentro de duas semanas, mas é provável que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tenha sido de 7,8% ou muito próximo disso. Foi esse o aumento aferido pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador mensal que começou a ser divulgado no ano passado e que, por sua precisão, já é considerado uma boa antecipação dos dados do IBGE.

A variação apontada pelo IBC-Br é maior do que as previsões recentes do Banco Central e de boa parte dos economistas de instituições e empresas privadas, de até 7,5%, e está no intervalo entre 7,5% e 8% que vinha sendo apontado por membros do governo como aquele em que se situaria a expansão da economia em 2010. É um aumento muito forte, o maior em muitos anos, que mostra a rápida e intensa recuperação da economia brasileira, depois de absorvidos os impactos da crise global, que fez o PIB encolher 0,6% em 2009.

A manutenção da atividade econômica em ritmo tão intenso, no entanto, acabaria por gerar problemas de oferta, cuja consequência seria a pressão sobre os preços internos. O nível de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira medido pela Fundação Getúlio Vargas ficou em 84,9% em dezembro, um índice acima daquele considerado o máximo para assegurar o crescimento sustentável, isto é, sem provocar aumento generalizado dos preços. Resumidamente, se não houver um grande volume em investimentos na expansão do setor produtivo, a economia brasileira não tem condições de continuar crescendo nesse ritmo sem que haja a aceleração da inflação.

Mas o IBC-Br relativo a dezembro constatou que, nos três últimos meses do ano, a expansão da produção, embora maior do que a do trimestre anterior, foi menor do que a média do ano passado. De outubro a dezembro, o aumento do PIB foi de 1% sobre o trimestre anterior. "A economia está trabalhando em nível mais próximo de seu potencial", disse ao Estado o professor de economia da Universidade de São Paulo Fábio Kanczuk.

Outros indicadores, como os da produção industrial e das vendas no varejo, mostram que o ritmo de atividade observado no fim do ano passado se manteve no início de 2011. Se o ritmo atual não mudar até o fim do ano, o crescimento do PIB em 2011 ficará próximo de 4%, número para o qual converge a maioria das projeções. Diante dos números do IBC-Br, alguns economistas privados reduziram para menos de 4% suas previsões para o aumento do PIB neste ano. Será uma expansão bem menor do que a do ano passado, mas ainda assim muito positiva. "O crescimento econômico mudou de faixa", disse o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas. "A partir de agora está mais na casa dos 4%, o que não é um resultado ruim, já que o País cresceu demais em 2010."

Parte da redução do ritmo de crescimento da economia se explica pelas medidas preventivas adotadas pelo Banco Central para tentar reduzir a oferta de crédito, que vinha alimentando fortemente o consumo interno e pressionando os preços. Entretanto, a redução do ritmo de crescimento não afasta inteiramente o risco de aceleração da inflação, pois boa parte das pressões vem dos preços dos alimentos, que sobem em todo o mundo, e dos serviços, que não são afetados pelo crédito. Ou seja, medidas como as restrições ao crédito já impostas pelo BC trazem um certo alívio, mas não eliminam a necessidade de uma política monetária mais rigorosa.

A alta muito forte dos juros não interessa a ninguém, muito menos ao governo, pois, além de frear a demanda, que é seu objetivo principal, atrai ainda mais capitais externos, porque a diferença da remuneração aqui e no exterior fica ainda maior, o que desvalorizará mais o dólar e dificultará ainda mais as exportações. Quanto mais séria e decididamente o governo cortar seus gastos, reduzindo a demanda agregada, mais alívio propiciará à política monetária.

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