Coluna do Rui Grilo


Concertada no Tamar

“Todo artista tem de ir aonde o povo está” (Milton Nascimento)

Rui Grilo
Neste sábado, fiquei extremamente incomodado ao assistir o show do grupo Concertada, ao ver um número tão reduzido de espectadores para um espetáculo com aquela categoria. Subi ao palco e manifestei essa indignação e, de certa forma, minha solidariedade ao grupo.

Por outro lado, se ouve por todos os lugares que Ubatuba não oferece muitas opções de lazer a não ser praia e sol. Parece que a comida do vizinho sempre é melhor. Será verdade ou não enxergamos o que ocorre ao nosso lado?

Logo que cheguei aqui em Ubatuba, constatei alguns problemas: a proibição de músicas nos quiosques e restaurantes, a falta de espaços públicos com infraestrutura adequada e a má utilização dos poucos espaços existentes; a falta de um calendários fixo de eventos, a má divulgação dos eventos programados pelos grupos locais e a falta de apoio do poder público, que usa esse apoio como se fosse favor, reservando os recursos apenas aos grupos que não questionam a forma de administrar a cidade.

Assim, a inauguração do casco acústico no Tamar representa um grande avanço como apoio à produção, a difusão e a democratização do acesso às artes em Ubatuba. No entanto, a sua localização dificulta o acesso principalmente àqueles com poucos recursos econômicos e que não dispõem de carro. Essa população usa muito a bicicleta, mas à noite e com chuva, fica inviável.

Quando era presidente da Associação do Moradores da Pedreira apresentei um pedido para a colocação de um circular que ligasse a ponta do Perequê Açu à rotatória da Praia Grande. Nunca tive resposta e sem uma população mobilizada, o poder público não se movimenta para atender as necessidades desses moradores.

Para se perceber essa demanda, é só observar a procissão de bicicletas ligando a Praia Grande ao Ipiranguinha, Pedreira, Perequê Açu e Taquaral. O único cinema de Ubatuba está fora do trajeto regular dos coletivos. Em São Paulo, uma linha como a do Perequê Mirim, que demora muito, e que é a única que passa perto do Shopping Porto Itaguá, é chamada de cata-osso pela população.

Por outro lado, não vemos os artistas participando de movimentos que lutam por outras prioridades. No debate sobre tratamento de lixo havia poucos artistas presentes, revelando uma incompreensão de que quanto mais se gasta com lixo, menos dinheiro sobra para as outras necessidades, entre as quais a necessidade da arte, da saúde, da educação, do esporte.

Em São Paulo, o Movimento Arte Contra a Barbárie criou um forte movimento cooperativo para obrigar o governo municipal a destinar mais recursos para a cultura e com maior transparência. No entanto, recentemente tiveram que denunciar e se unir novamente para impedir que Kassab destruisse as conquistas de longos anos de luta.

O Movimento Ubatuba em Rede surgiu justamente pela constatação da fragilidade das entidades e associações quando estão isoladas ou preocupadas com o próprio umbigo. É necessário dar visibilidade a cada uma delas mostrando a contribuição que dão ao município e às pessoas que delas participam. O objetivo é discutir problemas e propostas comuns respeitando a identidade de cada uma, sem submissão e sem caciques.

Acredito que as ações que mais contribuiram para esse fortalecimento foram: a coleta de óleo de cozinha usado para evitar a poluição da água, gerando fundos para a Sapo-uba (entidade que atende pacientes com câncer) e reciclando-o na produção de sabão e biodiesel; a realização do evento Mutirão por uma Cultura de Paz; e o Seminário “O Que Fazer com o Nosso Lixo”.

Parece pouco mas mostram a disposição para a transformação e para sair de uma atitude de passividade.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
 
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