Opinião

O Congresso de 2011

O Estado de S.Paulo - Editorial
O presidente Lula impediu o seu partido de apresentar candidatos próprios a governos estaduais - Minas Gerais foi o exemplo mais notório - onde isso dificultaria a construção de alianças em torno da candidatura Dilma Rousseff. Mas, no cômputo geral, a restrição não afetou o desempenho da legenda nas eleições para a Câmara dos Deputados e o Senado. No primeiro caso, ao conquistar 88 cadeiras e com o PMDB perdendo 10, o PT terá a partir de 2011 a maior bancada da Casa. No segundo, em que estavam em jogo 2/3 das 81 vagas, a sua representação passou de 8 para 15 membros.

Os ganhos petistas se inscrevem numa contabilidade ainda mais favorável para o lulismo. Se Dilma se eleger, terá no Congresso uma formidável maioria. Se o eleito for Serra, terá de comer pelas bordas esse contingente, com os talheres de sempre, a fim de neutralizar a inevitável tentativa do PT de impedi-lo de governar. Os números impressionam. Na Câmara, onde se registrou o menor índice de renovação desde 1998, a frente lulista integrada por 10 agremiações somará 311 cadeiras em 513. Para a aprovação de reformas constitucionais são necessários 308 votos.

Já os votos amealhados pelos 6 partidos da coligação serrista se traduzirão em não mais de 136 lugares. As siglas dos 66 restantes não apoiaram nenhum dos finalistas da corrida ao Planalto. Para se ter ideia do baque sofrido pela oposição, PSDB, DEM e PPS perderam ao todo 45 cadeiras. A rigor, as urnas de domingo não criaram uma nova relação de forças na Câmara: acentuaram o quadro existente. Já a qualidade do novo corpo legislativo pode ser medida pela chegada do palhaço Tiririca, com seu 1,3 milhão de votos, e a saída de políticos como os tucanos Arnaldo Madeira e Ricardo Montoro e o petista José Genoino.

A mudança mais significativa se deu no Senado - onde a presença oposicionista funciona como contrapeso ao controle absoluto do Congresso pelo governo. Ali caiu o projeto de prorrogação da CPMF e ali decerto teria caído, caso se materializasse, a emenda constitucional para propiciar a Lula um terceiro mandato. Mas a nova conformação da Casa dará a uma eventual presidente Dilma a supremacia com que o seu criador apenas podia sonhar. Os partidos da base lulista ficaram com 40 das 54 vagas em disputa, ao passo que o bloco PSDB-DEM perdeu 11 das 28 cadeiras que detinha no início da atual legislatura. Na próxima, com 73% dos lugares - índice igual ao da nova Câmara -, o Planalto será o dono do jogo no Senado, na hipótese de vitória de Dilma.

A captura do Senado terá tido para Lula um sabor quase tão adocicado quanto o da vingança bem-sucedida contra os seus mais acerbos adversários ali - os tucanos Tasso Jereissati, do Ceará, e Arthur Virgílio, do Amazonas. Um foi presidente do PSDB. O outro era líder da legenda na Casa. Lula nunca escondeu que o seu grande desejo, na frente legislativa da batalha eleitoral, era vê-los decapitados. Juntamente com eles, saem os demistas Heráclito Fortes, do Piauí, e Marco Maciel, de Pernambuco - este último provavelmente a maior perda singular sofrida pelo Congresso. De todo modo, o Senado passará a contar, de ambos os lados do corredor, com uma leva de políticos experientes, conhecidos antes pela moderação do que pela beligerância.

O primeiro deles, evidentemente, é o ex-governador mineiro Aécio Neves, do PSDB, o grande vitorioso do 3 de outubro na esfera estadual - elegeu sucessor o seu vice Antonio Anastasia e, para o Senado, o ex-presidente Itamar Franco. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aécio poderá ocupar o mesmo cargo no Senado. Já a principal voz da oposição dificilmente deixará de ser a do tucano Aloysio Nunes Ferreira, em quem votaram 11,2 milhões de paulistas - um recorde no Estado - contrariando as pesquisas que o situavam em terceiro lugar, depois de Marta Suplicy e Netinho de Paula. Aloysio se distinguiu também por ser o único candidato que não teve medo de exibir no horário eleitoral o apoio do ex-presidente Fernando Henrique.

O Senado renovou-se mais do que a Câmara - uma boa notícia, considerando o retrospecto. O perigo é, se eleita, Dilma valer-se de sua maioria para aplastar a oposição nas duas Casas.

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