Opinião

O silogismo da impunidade

Carlos Alberto Di Franco
O roubo de donativos destinados às vítimas das enchentes em Santa Catarina provocou indignação e também uma discussão sobre os reflexos da impunidade no País. O professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano disse, em comentário publicado no jornal O Globo, que o comportamento de juízes, políticos e empresários que advogam em causa própria incentiva ações como as dos soldados e voluntários que roubaram alimentos e roupas doados àqueles que perderam tudo o que tinham nas enchentes.


"A gente fica horrorizado. Quando se vê um político dividindo sacos de dinheiro, de forma tranquila, começa-se a achar natural um voluntário separar daquele conjunto o que é melhor para ele. É necessário dar um basta a isso. Quando vamos romper esse ciclo? Quando se banaliza a corrupção se banaliza a culpa. O risco é de que se torne um comportamento epidêmico. Para onde vamos?", pergunta o historiador Marco Antônio Villa. A presidente da Pastoral da Criança, Zilda Arns, disse ter ficado envergonhada com o que aconteceu em Santa Catarina. Para ela, quem rouba donativo não tem firmeza de caráter.

Uma das causas dos crimes e dos desvios de comportamento que castigam a sociedade brasileira é, sem dúvida, a certeza da impunidade. O criminoso sabe que a probabilidade de um longo período de reclusão só existe na letra morta da lei. O Brasil, como bem sabemos, não padece de anemia legal. O nosso drama é a falta de eficácia na aplicação da lei. A Itália, nação também latina e emocional, soube combater suas máfias com notável sucesso. E não falemos nos países anglo-saxões. Lá fora também existe corrupção, só que as autoridades colocam os ladrões na cadeia.

O que a sociedade assiste, em todos os níveis, a começar pelos patamares mais altos, é ao jogo do faz-de-conta e ao triunfo da mais obscena impunidade. O teatro das CPIs, a reeleição de inúmeros corruptos, a novela inacabada dos escândalos que se sucedem e tantas outras bofetadas na cidadania compõem o ambiente perfeito para a institucionalização do crime. A fibra moral da sociedade vai-se desfazendo numa velocidade assustadora. Mas há, estou convencido, causas ideológicas mais profundas para o eclipse da ética e para a explosão das ações criminosas. O relativismo ético, a ausência de limites e a crise da família estão na raiz da patologia social.
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