Coluna do Sábado

Democracia em concordata

Sidney Borges
Dois assuntos tomaram conta da imprensa nos dias desta semana. O avião que pousou na água e o refúgio concedido ao italiano Cesare Battisti. Do primeiro fica a pergunta no ar: o que fez com que os motores parassem? A resposta não deve demorar, o acidente deixou testemunhas. Por incrível que possa parecer não há uma única vítima a lamentar. Quando acontece um fato tão incomum a televisão fica repercutindo e muito do que é apresentado não faz sentido. Por exemplo, à guisa de comparação mostraram o pouso desastrado de um avião no oceano Índico. O piloto não conseguiu nivelar as asas e tocou a água com a ponta da asa esquerda. A desaceleração produziu forças que partiram o avião ao meio. Entre os mais de 100 mortos mortos estava o seqüestrador. O que ele queria? Não importa, terroristas querem atenção, são eternas crianças carentes. O piloto pouco pode fazer, tinha os olhos turvados pelo sangue que vertia da cabeça aberta por um golpe de machado. Sobre o segundo tema, a concessão de refúgio ao italiano, não há muito a dizer. Se, como afirma a Justiça da Itália, país democrático e soberano, ele foi o autor dos crimes que lhe são imputados, é um assassino e deve ser punido. O ministro Tarso Genro pensa diferente. No cerne da decisão está a "causa". A prática de expropriações revolucionárias, ainda que com efeitos colaterais, é válida, desde que tenha a chancela da esquerda. O que são três ou quatro mortos e um tetraplégico frente à grandeza da revolução proletária? Enfim, quem pratica a ação sofre a reação. A decisão polêmica vai refletir na carreira política de Tarso Genro. Se para melhor ou pior não arrisco palpitar. Sei apenas que foi criado um divisor de águas. Como no dia em que Xerxes atravessou o Helesponto. No caso dos boxeadores cubanos a decisão do governo foi cirúrgica. Os traidores ousaram pedir asilo do paraíso de Fidel. Foram deportados. Como Olga Benário. Tentei explicar à minha sobrinha que há deportações e deportações. Ela não entendeu, é muito jovem para compreender as artimanhas da dialética marxista-leninista. Continuo acreditando na democracia, mas não mataria por ela. Se a ditadura do proletariado acontecer eu fujo. Vou para Roma. Pedir refúgio e garantir o meu sagrado direito de ir e vir, coisa que os comunistas nunca conseguiram dar aos habitantes de seus paraísos. Viva a democracia.

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