Viajando

Umidade relativa e asfaltos afins

Na semana que passou fui a São Paulo. A mega-cidade está com o visual atraente, menos poluído. Poluição visual dá stress. Sonora também. As duas somadas ao calor e aos congestionamentos enlouquecem. Parte considerável da população paulistana enlouqueceu, embora ainda não se tenha dado conta. Um dia a cidade será cercada e colocarão placas de hospício nas entradas. Mas é um hospício que me agrada, gosto de São Paulo. Quem sabe um dia eu me interne por lá. Apesar de viver em um paraíso tropical estou meio patso. Deve ser por causa da umidade relativa. Muito alta. Mas voltando a São Paulo, embarquei no metrô na estação rodoviária. Na estação seguinte, ainda a céu aberto, entrou uma velhinha apoiada em uma bengala e sentou-se em um banco perpendicular ao meu. O metrô mergulhou no túnel para cruzar a cidade. Na próxima estação, ao lado da antiga Escola Politécnica, adentrou um ceguinho corcunda, de origem africana, vestindo terno marrom e portando um estojo de couro nas mãos. Sentou-se ao lado da velha senhora, que assim que o trem andou, olhou para mim e perguntou: - Sabe quantos anos eu tenho? Arrisquei cinqüenta e nove. Não sei o porquê das risadas, mas metade do vagão riu. Orgulhosa ela disse alto e claro: - Oitenta e oito no próximo dia 18. Graças a São Expedito. Sou devota de São Expedito que me protege e ampara. Depois de um breve silêncio continuou: - Deus é pai, para Ele tudo é possível. Nesse instante o ceguinho que estava desligado acendeu e emendou: Se não for por Ele nada acontecerá. Em seguida deu um panfleto para a velhinha, tirado da bíblia que havia no estojo de couro. Ela ficou surpresa, examinou cuidadosamente o presente e devolveu ao ceguinho, que guardou no estojo e tornou a desligar. O trem parou na estação Luz. A velhinha e o ceguinho desceram, cada um em uma direção. Continuei até a Praça da Árvore. Foi rápido, metrô é rápido, ainda vamos ter um em Ubatuba. Ligando o Centro ao Ipiranguinha. Com o ramal do portinho. Milhões de turistas desembarcarão em breve no portinho. Precisamos estar atentos. E tomar cuidado com a umidade relativa. (Sidney Borges)

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