Opinião

Explosões sexistas

João Pereira Coutinho
Será legítimo ordenar mulheres para o sacerdócio? Um amigo meu, católico praticante, é contra. Diz ele que, na missa, gosta de estar concentrado na liturgia. Uma mulher no púlpito pode abalar a fé de qualquer crente com pensamentos impuros.

Entendo o problema. Rio com ele. "Mea culpa". Daqui para a frente, prometo controlar-me. E deixar um conselho a esse amigo: cala a boca, rapaz. O comentário é "sexista" e pode até custar um emprego.

Se ele relinchar com minhas chicotadas, contarei a história de Tim Hunt, cientista britânico e vencedor de uma coisa chamada Prêmio Nobel de Medicina, em 2001.

Os fatos circularam pela mídia – e, naturalmente, pelas catacumbas das redes sociais. Em conferência na Coreia do Sul, Tim Hunt partilhou uma piada com a audiência. Disse ele que as mulheres nos laboratórios podem perturbar o trabalho científico. "Você se apaixona por elas; elas se apaixonam por você, ou então choram quando as criticamos", afirmou o cientista.

Foi o que bastou para que o University College, de Londres, fiel aos seus pergaminhos igualitários, tenha terminado a sua colaboração com o professor Hunt. Mesmo depois de o próprio, atônito e envergonhado, ter pedido desculpas pelo "erro" imperdoável.

Não chega. O mínimo que se esperava de Tim Hunt era a devolução imediata do Nobel e, quem sabe, uma mudança de sexo por solidariedade feminista.

Com o nome de Tina Hunt, o antigo Tim Hunt poderia finalmente mostrar ao mundo que as mulheres não se apaixonam nos laboratórios; que os homens não se apaixonam por elas; e que, em caso de crítica pelos pares masculinos, a nossa Tina permaneceria firme e hirta, sem verter uma única lágrima que fosse.

*

E se um asteroide colidir com a Terra nos próximos anos? Não quero assustar o leitor sensível, mas pode acontecer.

Leio na revista "Time" que a Agência Espacial Europeia reuniu vários sábios cosmológicos para discutir o apocalipse. No longo prazo, estaremos todos mortos, dizia Keynes. Mas o pior é que, no longo prazo, a humanidade inteira pode conhecer igual destino.

Um exemplo: antes de 2040, um rochedo de nome Apophis, com capacidade destrutiva comparável a 58 mil bombas nucleares de Hiroshima, passará pela vizinhança e será observável pelos terráqueos. Mas outros rochedos vêm a caminho e podem acertar no alvo, acabando com a festa. Perante isso, o que fazer?

Os especialistas informam que há duas soluções em cima da mesa. A primeira, digna de filme, é usar armamento nuclear para pulverizar o rochedo na sua cavalgada assassina.

A segunda, mais delicada, implicará sempre o envio de um brinquedo humano para a superfície do rochedo, capaz de interferir com a sua rota. E, perante essa segunda solução, antecipo sérios problemas.

O leitor sabe do que falo. Há menos de um ano, o mundo assistiu a um espantoso feito científico: uma sonda de nome Rosetta conseguiu pousar em um cometa, abrindo possibilidades de conhecimento (e proteção) para a raça humana.

Houve aplausos. Houve festejos. Houve alegria. Mas um cientista envolvido no projeto, de nome Matt Taylor, apareceu perante as câmeras com uma infeliz camiseta colorida, onde era possível observar imagens de mulheres pin-up, em poses sensuais, ou seja, "degradantes" e "ofensivas".

Para não variar, as catacumbas das redes sociais não perdoaram esse crime "sexista". E o feito científico da sonda Rosetta, que em teoria poderá salvar um dia a civilização, foi imediatamente jogado no lixo ante o machismo repulsivo do doutor Matt Taylor.

Verdade que o cientista, em aparições posteriores, pediu mil perdões a todos os selvagens que ele tinha melindrado com a sua indumentária. Mas eu, pelo sim, pelo não, freava desde já qualquer investimento nessa área. Só para evitar qualquer possibilidade de novas agressões "sexistas".

Se isso implicar a destruição da humanidade por um rochedo imparável, paciência: restará a consolação de sabermos que o fim será cumprido no estrito respeito pela cartilha politicamente correta das patrulhas que nos dominam. 

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