Opinião

O Brasil no divã

Como dizia o psicanalista Hélio Pellegrino, um dosfundadores do PT, a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice

Nelson Motta
Já experimentei várias vezes e funciona: é preciso sair do Brasil para vê-lo melhor, para o bem e para o mal. O distanciamento permite uma visão mais clara e com menos interferência da cegueira das paixões de momento, endurece sem perder a ternura por nossa gente e nossos sonhos de país.

No inverno de Lisboa, faço sessões informais de psicanálise política e econômica do Brasil com amigos lusos: à medida em que lhes relato o que está acontecendo, ouço minha própria voz me dizendo os sintomas de nossas doenças, que, ao contrário da psicanálise, não se “curam” por serem nomeadas e aceitas, exigem terapia intensiva de valores, intenções e ações.

Não que os enredos sejam tão estranhos aos portugueses, que estão com um ex-primeiro ministro socialista preso e com seu maior grupo empresarial, o onipresente Espirito Santo, quebrado e sob investigação que envenena outros grupos políticos e econômicos.

No caso do Brasil, tamanho é documento, porque amplia as potencialidades de reação mas dificulta consensos para 200 milhões de pessoas.

Mesmo assim, eles ficam meio incrédulos diante da minha narrativa dos fatos. Especialmente a criação de um novo modelo de negócios em que a empreiteira ganha a concorrência superfaturada e faz da propina uma contribuição legal ao partido, lavando dinheiro sujo no Tribunal Superior Eleitoral.

Como dizia o psicanalista Hélio Pellegrino, um dos fundadores do PT, a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice.

Há anos em penosa recuperação, Portugal está começando a se reerguer, mais uma vez, como vem fazendo há séculos e séculos. Mas aqui as misérias do severo arrocho econômico não provocaram aumento da criminalidade, as ruas de Lisboa seguem tranquilas noite e dia, às vezes cortadas por passeatas de protesto, raivosas mas pacíficas.

Com a crise econômica, o mercado de imóveis despencou. Uma cobertura de cem metros quadrados com salão e dois quartos no Chiado (a Ipanema deles) vale um quarto e sala em Copacabana. Come-se em bons restaurantes por menos do que em botecos cariocas. Não é por acaso que tantos brasileiros estão pensando em dar um tempo em Lisboa.

Original aqui

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