Opinião

O vírus da Satiagraha na Lava Jato

Elio Gaspari
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, não precisava ser levado coercitivamente para a Polícia Federal. Bastava chamá-lo, ou ainda revelar que o comissário não atendia a intimações. Também não era necessário que a PF divulgasse o vídeo de um agente pulando o muro de sua casa depois que ele se recusou a abrir o portão. Afinal, o que lhe restava fazer, esperar um disco voador? Em novembro a PF reconheceu que arrolou indevidamente um diretor da Petrobras numa lista de beneficiários de comissões. Já apareceram dezenas de listas com os nomes de parlamentares metidos nas roubalheiras. Nenhuma delas baseada em provas, apenas galerias com os suspeitos de sempre. Nomes encontrados na agenda do "amigo Paulinho" são apresentados como indícios de traficâncias, quando deveriam ser tratados como subsídios para as investigações, até mesmo porque ele assinou um contrato de colaboração com a Viúva.

Noutra investigação, não era necessário que o ex-governador de Mato Grosso fosse levado preso porque em sua casa a Polícia Federal encontrou uma arma com documentação vencida. É injustificável que telefonemas banais dados a ele depois do episódio pelo ministro da Justiça e por Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal, tenham sido passados à imprensa. Ecoam um caso ocorrido em 2005, quando vazou um diálogo telefônico de Paulo Maluf com a secretária eletrônica do ministro Márcio Thomaz Bastos: "É Paulo, bom dia. Clic".

Tudo o que os envolvidos na "Lava Jato" precisam é transformá-la num similar da malfadada Operação Satiagraha, de 2008. Teatrinhos, prisões espetaculosas e vazamentos irresponsáveis prejudicaram as investigações e tisnaram a Polícia Federal. Fechada a conta, deu em nada.

Comparar a Satiagraha à Lava Jato seria uma injustiça para com o trabalho da PF, do Ministério Público e do juiz Sergio Moro na investigação das petrorroubalheiras. O que realmente conta, as provas, ainda estão sob sigilo. As teatralidades de hoje são detalhes, mas esses detalhes são tóxicos. Em 2009 a Operação Castelo de Areia chegou às portas da empreiteira Camargo Corrêa e dois anos depois o processo foi anulado no Superior Tribunal de Justiça por falha processual. Para felicidade geral, as tramas descobertas na "Castelo de Areia" vêm sendo desvendadas na "Lava Jato". Se os diretores da Camargo Corrêa fecharem seu acordo de colaboração, melhor ainda.

A quantidade de mentiras e empulhações produzidas pelos defensores dos petrolarápios já é suficiente para embaralhar as cartas. Não é necessário que o poder público entre nesse jogo.

Nunca é demais repetir a fábula da manhã de 24 de agosto de 1954:

Às oito da manhã, numa pensão da rua Bento Lisboa, a pouca distância do Palácio do Catete, um sujeito é preso saindo de um quarto com uma faca ensanguentada. Lá dentro 

há uma mulher morta a facadas. Meia hora depois já chegaram a polícia e o advogado do suspeito, quando o rádio anunciou:

O presidente Getúlio Vargas suicidou-se.

O advogado chama o delegado para um canto e diz:

— Doutor, esses dois fatos são conexos.

Seu cliente estava frito.

Só lhe restava tumultuar o inquérito. 

Original aqui

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