Pitacos do Zé

A Quinta Coluna

José Ronaldo dos Santos
A Quinta Coluna é uma expressão surgida na Espanha, por ocasião da guerra civil há coisa de quase oitenta anos. O ditador (Franco) afirmou que tinha o apoio de uma quinta coluna  de partidários dentro da própria cidade (Madri), que se juntaria às colunas que atacavam de fora. Portanto, é sinônimo de inimigo interno, de traição.

Após ter feito denúncias, de ter presenciado tantos descasos e de ter ouvido outras acerca de outras mais medonhas, volto a escrever a respeito de uma grande fallta de respeito. Trata-se do transporte coletivo, da forma como são tratados os trabalhadores que necessitam, que pagam, mas são constantemente insultados em sua dignidade. Agora, por exemplo, ao acompanhar meus filhos até o coletivo, só um passageiro, cujo documento custou a ser reconhecido pela máquina que libera a catraca, fez com que o veículo ficasse parado por muitos minutos. Primeira questão: Por que o motorista tem que resolver tudo sozinho no ônibus? Não poderia ter um cobrador que o liberasse para ter como preocupação somente a responsabilidade de ser um bom motorista?

Em outra ocasião fiz um texto sobre o trajeto intermunicipal, mostrando por fotos um veículo que continua fazendo a linha Ubatuba – Caraguá, cujos assentos são reduzidíssimos, para caber mais gente amontoada de pé. Isso sem contar a desconforto dos bancos duros, a falta de educação de vários motoristas e cobradores etc.  A minha prima, viajante diária nessas versões  “pau-de-arara” litorânea, cansa de anotar as vezes que, já no bairro da Estufa, ou seja nos primeiros quilômetros de uma série de cinquenta até Caraguatatuba, muitos passageiros já estão de pé. Muitos desses são idosos. E o que dizer desse atraso tecnológico de enfrentar duas catracas num único veículo?

Aceita um desafio? Faça a experiência de embarcar no ponto inicial numa dessas versões degradantes e vá anotando em quantos minutos já tem gente viajando dependurado numa barra metálica. Se possível, faça um registro fotográfico. Não deixe de anotar as desconsiderações pelos idosos (e pelas crianças que precisam se arrastar sob as catracas). E as pessoas obesas? Já reparou nas humilhações sofridas nesse tipo de transporte público? Ah! Narre a sensação de ficar num banco plástico, duro, escorregando continuamente quando o condutor é o mais irracional e sem educação  possível. A propósito: por que somos desobrigados a usar cintos de segurança num meio de transporte tão precário assim?

No transporte municipal também há descalabros: a empresa que obriga os idosos a entrarem pela porta da frente (senão é o motorista quem paga a viagem), ganhou o direito de operar por mais uma dezena de anos. Eu já cansei de ver o quanto é difícil para muitos girar aquela engrenagem controladora. Segunda questão: Não passa da hora de investir em qualidade de transporte público aos munícipes e visitantes? No entanto, passa ano e sai ano, sai vereadores e prefeitos e os recém-chegados continuam fazendo de conta que não enxergam nada e não escutam nada. O povo que os pagam é esquecido. Isto não é traição aos propósitos políticos? (Não custa lembrar que política é a arte de cuidar da cidade).

O que temos em nossa cidade, então, não pode ter a denominação de Quinta Coluna?

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