Opinião

Mais um ano de inflação

O Estado de S.Paulo
O governo promete mais crescimento e menos inflação em 2013, mas sua prioridade será, com certeza, o cumprimento da primeira promessa. O estilo de jogo, tudo indica, será o mesmo dos últimos dois anos, com mais estímulos ao consumo e algum esforço para impulsionar o investimento. A presidente Dilma Rousseff e sua equipe tratarão a alta de preços como assunto secundário, como até agora, e cuidarão apenas de manter o resultado final abaixo de 6,5%, limite de tolerância fixado na política de metas. Se esse roteiro for cumprido, o quarto ano de mandato será iniciado com um potencial de crescimento ainda medíocre e um quadro de preços muito pior que o das economias mais produtivas - emergentes ou industrializadas.

O Banco Central (BC) mantém as projeções mais otimistas: inflação de 4,8% em 2013 e 4,9% em 2014, segundo o último relatório trimestral de inflação. No fim de dezembro, a estimativa do mercado financeiro para este ano chegou a 5,5%, de acordo com a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC. Essas previsões se referem ao Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária.

A inflação deverá ser contida, segundo as autoridades, pela conjunção de alguns fatores externos e internos. A economia global continuará em marcha lenta e os preços internacionais dos produtos agrícolas e de outras matérias-primas deverão acomodar-se ou, em alguns casos, recuar. Internamente, o crescimento econômico será maior que em 2012, mas o aumento dos salários e do crédito será moderado e, além disso, o governo alcançará a meta fiscal sem ajuste, isto é, sem recorrer ao desconto do valor investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O aumento de 9% para o salário mínimo, a partir de 1.º de janeiro, põe parcialmente em xeque uma das hipóteses do BC. A elevação real certamente supera, com folga, qualquer ganho de produtividade imaginável, mesmo com muito esforço, para o ano passado. Moderação no crédito é algo para ser conferido, nos próximos meses, mas nada permite supor, até agora, um padrão diferente do observado nos últimos anos. Quanto à política fiscal, provavelmente continuará expansionista, confirmando uma avaliação do próprio BC.

No fim do ano o governo confirmou a intenção de manter a política de estímulo fiscal ao consumo. Está prevista uma redução gradual do incentivo, mas o governo cedeu a pressões dos setores mais favorecidos, nos dois últimos anos, e poderá ceder de novo em 2013 e esticar os benefícios. Quanto aos investimentos, são muito menos certos, embora o Tesouro já esteja comprometido com mais créditos subsidiados para o BNDES.

Os indicadores de preços continuaram subindo vigorosamente no último bimestre e nada aponta para um arrefecimento significativo em 2013. As cotações das matérias-primas voltaram a subir, depois de um breve arrefecimento, como apontaram tanto a Fundação Getúlio Vargas (FGV) como o IBGE. Em dezembro, em 14 das 23 atividades da indústria de transformação cobertas pela pesquisa oficial houve alta de preços ao produtor. O IPC-S, o índice de preços ao consumidor atualizado semanalmente pela FGV em sete capitais, subiu 0,66% na última quadrissemana de dezembro e 5,74% no ano. Para 2013, a projeção é de um aumento de 5,4%.

Economistas de várias instituições de pesquisa têm procurado avaliar os efeitos positivos e negativos de alguns eventos esperados - reajustes de preços de combustíveis, aumentos de tarifas de ônibus e redução das contas de eletricidade. Essas contas podem ser muito interessantes, mas o fator decisivo é de outra ordem: qualquer aumento de preço pode gerar um amplo efeito de contágio simplesmente porque as condições da demanda são favoráveis. Essas condições dependem do nível de emprego, da massa de salários e dos gastos públicos. Isso explica a ampla difusão da alta de preços nos últimos dois anos e a persistência da inflação elevada. No fundo da cena está a política de tolerância. Esse quadro, tudo indica, deve manter-se em 2013.

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