Opinião

As atrocidades de Assad

O Estado de S.Paulo
Desde a repressão aos primeiros protestos populares contra o regime do ditador sírio Bashar Assad, há 15 meses, cada massacre de civis é recebido no Ocidente com ardentes palavras de condenação e a infundada expectativa de que o autocrata de Damasco chegou ao limite de sua ferocidade. Nesse meio tempo, os Estados Unidos e a União Europeia também impuseram diversas rodadas de sanções à Síria - sem resultados palpáveis. Além disso, por iniciativa da Liga Árabe, a ONU aprovou em março último um plano de seis pontos para sustar a violência no país, enviou cerca de 300 observadores internacionais para monitorar o cessar-fogo que deveria começar em 12 de abril e nomeou o autor do plano, o ex-secretário-geral do organismo Kofi Annan, seu mediador oficial.

O efeito da iniciativa é zero. Na sexta-feira passada, três dias antes de um agendado encontro entre o diplomata e o ditador, o Exército respondeu com artilharia pesada a uma manifestação de moradores de um lugarejo chamado Taldou, vizinho a Houla, na província de Hama, no oeste do país. A maioria dos habitantes da área é sunita, com bolsões de seguidores da seita alauíta, a mesma do clã Assad. O ataque, praticamente nas barbas dos enviados da ONU, deixou 108 mortos, entre os quais 49 crianças e 34 mulheres. Mas, diferentemente do que se presumiu, não foram os tanques os principais responsáveis pelo ultraje. Uma investigação in loco, respaldada por entidades sírias de defesa dos direitos humanos e depoimentos de testemunhas, revelou um quadro de horror reminiscente das piores atrocidades cometidas pelas forças sérvias na Bósnia, há 20 anos.

Trazidos das proximidades, os shabihas, as selvagens milícias leais a Assad, perpetraram um pogrom em Taldou. Indo de casa em casa, executaram famílias inteiras com tiros à queima-roupa e punhaladas, numa operação em duas etapas, que durou cerca de nove horas. Taldou abriga famílias de numerosos membros do rebelde Exército Livre da Síria. Ontem, em Genebra, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos informou que menos de 20 das 108 vítimas foram mortas por disparos de artilharia. Com macabro cinismo, as autoridades de Damasco disseram que isso provava que os assassinos eram "terroristas", ou militantes da Al-Qaeda, a soldo de inimigos da Síria. É a versão a que a ditadura se aferra: o país é vítima de uma ofensiva de fundamentalistas islâmicos, e o que o governo faz é exercer o seu legítimo direito à autodefesa.

Leia na íntegra em As atrocidades de Assad

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