Pitacos do Zé


Caminhos de servidão – eles se vão?

José Ronaldo dos Santos
Caminho de servidão é o que se chama hoje de trilha. Portanto, todas as ligações entre as praias e os sertões, passando pelas costeiras, vargens, grimpas e badejas, são chamadas pelos mais antigos do lugar de caminhos de servidão. Dizem até que a Lei Orgânica do município garante-os (mesmo em tempo de alta especulação imobiliária); o que significa dizer: eles são soberanos mesmo que os ricaços agora estejam com as posses. Confesso que nunca li tal adendo na lei. O que fazer se não existir tal “detalhe”?

Escolhi a imagem das canoas caiçaras repassada por um amigo para escrever sobre o caminho de servidão que parte do canto esquerdo da praia da Enseada - o grande morro da fotografia - e vai até a Toninhas. É o espigão da Serra do Mar que mais perto chega da Ilha Anchieta, um lugar que foi, depois da expulsão de muitos caiçaras há mais de cem anos, um presídio. Hoje é uma reserva ambiental. Nesse caminho, hoje conhecido como Trilha da praia de Fora, estão pequenas praias: já no começo, na área onde mora o pessoal do Paru, está a prainha do Canto do Góis; depois, passando por ingazeiros, jaqueiras, bacuparizeiros, cambucazeiros e outras espécies nativas, chega-se à praia do Tapiá. É a mais extrema, quase na ponta, mas muitos não a conhecem porque o acesso está quase escondido. Por isso alguns sabem da sua existência somente percorrendo a costeira da praia seguinte conhecida por nós como Pixirica, denominada mais recentemente por praia de Fora. Continuando a caminhada, sempre tendo o mar como visão, estão duas prainhas em sequência: Xandra e Maria Godói.

De acordo com o Júlio, que passou por lá no ano passado, há uma cerca no trecho seguinte que impede a conclusão da caminhada. Ou seja, um caminho de servidão está barrado. Portanto, paro por aqui a minha narrativa. Aproveito para questionar: será que a Promotoria Pública, tomando conhecimento da denúncia, verificando in loco o fato, poderia mover alguma ação no sentido de recuperar o caminho da servidão em questão? Eu me prontifico a guiar uma autoridade determinada em agir concretamente ao referido lugar. Creio que o Júlio também fará tal gesto com o maior préstimo e alegria. Afinal, não é possível aceitar mais essa arbitrariedade, essa negação de acesso ao nosso patrimônio natural e cultural.

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