Opinião

O comando da Petrobrás

O Estado de S.Paulo
O anúncio da substituição de José Sérgio Gabrielli por Maria da Graça Silva Foster na presidência da Petrobrás, a ser referendado pelo Conselho de Administração, foi recebido com alta das cotações das ações da empresa nas bolsas de São Paulo e estrangeiras. Confirma-se, assim, a intenção da presidente Dilma Rousseff de alterar o comando da maior empresa do País e uma das mais importantes companhias de petróleo do mundo, indicando pessoa de suas relações mais próximas e com perfil técnico para a tarefa.

Diante da versão, difundida por fontes próximas ao governo, de que a substituição está sendo feita para que a presidente Dilma Rousseff possa melhor controlar a empresa, Gabrielli repetiu o que vem dizendo há tempos: o governo sempre teve o controle da Petrobrás. Por ser o seu maior acionista, determina as suas políticas.

Nos últimos anos, a Petrobrás sofreu alguns reveses, como a demora na entrega das plataformas de exploração e o não cumprimento das metas de produção de petróleo. Ocorreu, ainda, uma desvalorização dos papéis da empresa, pois os investidores reagiram com desconfiança à maneira como foi feita, em 2010, a capitalização de US$ 120 bilhões da Petrobrás. O valor da empresa em bolsa caiu de seu nível mais alto, de R$ 429 bilhões, em 2007, para R$ 291 bilhões, em 2011.

Além de um currículo respeitável - engenheira química pela UFF, com mestrado em engenharia de fluidos, pós-graduada em engenharia nuclear pela UFRJ e com MBA em Economia pela FGV -, Graça Foster é um caso exemplar de ascensão social por esforço próprio. Dos 8 aos 12 anos de idade morou no Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, catando papel e vendendo latas e garrafas para custear seus estudos.

Evidentemente, não bastam a coragem, a qualificação técnica e o apoio irrestrito da presidente da República para Graça Foster corrigir os vícios administrativos da Petrobrás, aparelhada principalmente, mas não exclusivamente, pelo PT. Já se anuncia que terão de ser trocados outros diretores, entre os quais são citados os de Finanças, Abastecimento, Serviços e Exploração e Produção.

A troca da direção da estatal foi informada dia 5 por Dilma a um dos patronos políticos de Gabrielli, o governador da Bahia, Jacques Wagner, que se apressou a anunciar que o presidente da Petrobrás tem convite para ser secretário de Estado (e já é visto como um dos pré-candidatos ao governo baiano, em 2014). As intenções políticas de Gabrielli são a explicação ideal para sua saída da presidência da Petrobrás.

A posição hegemônica da estatal na exploração do pré-sal é o maior dos desafios da empresa, pois a Petrobrás terá de participar de todas as companhias ou consórcios formados para extrair o óleo das profundezas.

Mas não é esse o único problema, pois a queda de Gabrielli chega depois da morosidade da licitação, suspensa no mês passado, para contratar 21 sondas de perfuração do pré-sal. A presidente da República quer que as sondas sejam produzidas no Brasil. Mas não há certeza de que possam, de fato, ser produzidas no País, no prazo previsto.

Outra questão é a do preço final de venda dos combustíveis, em especial, gasolina e diesel, cuja fixação tem impacto direto sobre a inflação. O governo tem preferido subsidiar o consumidor de gasolina, via redução tributária, enquanto a Petrobrás importa volumes crescentes de gasolina - e de álcool - para atender à demanda.

Graça Foster tem fama de dureza no trato profissional e de rigidez na exigência de cumprimento de missões gerenciais. Trabalha com prazos e metas e seus projetos só ganham vida com orçamento aprovado. Tem, segundo o jornal Valor, um calendário de marcos. "É a forma mais primitiva de gestão, a mais simples, você saber o que tem que fazer", disse ela àquele jornal. "Todos os gerentes sabem o que precisam fazer, e os coordenadores dos projetos sabem todos os marcos".

O maior desafio da nova direção da Petrobrás é aumentar a produção atual de pouco mais de 2 milhões de barris/dia para 3 milhões de barris, até 2015.

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