Coluna do Rui Grilo

O otimismo dos jovens brasileiros

Rui Grilo
Toda vez que vejo um catador puxando uma carroça fico muito deprimido. Acho muito difícil aceitar que no mesmo momento em que temos os recursos mais modernos da tecnologia ainda temos que conviver com essa cena em que o ser humano substitui um animal, reduzido ao uso de sua força física. É uma contradição dura de aceitar e que espero em breve  seja superada.
 
E para reforçar o tamanho da contradição, leio na internet que a consultoria Accenture identificou em uma recente pesquisa que consumidores brasileiros lideraram as compras de telefones celulares, TVs de alta definição, câmeras digitais e netbooks.
 
A consultoria ouviu consumidores nos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo relatório da Accenture, os grupos de entrevistados no Brasil, na Índia, China e Rússia são representativos das populações urbanas e semiurbanas desses países.
 
Cerca de 55% dos brasileiros ouvidos disseram ter comprado um telefone celular no ano passado. A Índia vem em segundo lugar com cerca de 50% dos entrevistados respondendo positivamente, deixando o grupo da Rússia em terceiro com apenas 40%. Os entrevistados americanos aparecem apenas em 6º lugar na lista, com cerca de 20% dizendo ter adquirido um telefone celular em 2010.
 
Uma outra pesquisa, denominada “2011 – A Juventude do Mundo”, divulgado pela Fundação para a Inovação Política (Fundapol) da França aponta a juventude brasileira em segundo lugar (87%), atrás apenas da Índia (90%),  no que se refere ao otimismo quanto ao seu próprio futuro e, em terceiro lugar (72%) com relação ao futuro  do país. Ao observar a realidade, parece não haver tanto motivo para todo esse otimismo. 

Sempre achamos que a casa do vizinho é mais bonita e sem problemas.
No entanto, apenas 17% dos jovens gregos, 23% dos mexicanos, 25% dos alemães e 37% dos americanos consideram que o futuro de seus países será promissor. Enquanto 72% dos jovens brasileiros tem confiança de que terão  um bom emprego, apenas 32% de japoneses  tem essa perspectiva.
 
Isso  indica que aqueles que sempre foram modelos a serem copiados, hoje estão numa situação delicada na visão deles mesmos.
 
Por outro lado, os povos que se viam ou eram vistos como subdesenvolvidos, e que hoje, estão em um processo de desenvolvimento, passam a mudar a sua  autopercepção, vendo a realidade de maneira positiva, talvez como fruto das políticas desenvolvidas no sentido de criar melhores perspectivas no que se refere ao acesso à educação, à empregos e ao financiamento, especialmente para aqueles que estavam excluídos devido às crises políticas, econômicas e sociais.
 
A pesquisa também revela que mais de 1/3 dos jovens brasileiros apóiam a tese de que as relações sexuais se dêem após o casamento; 39% consideram que ter filhos é uma prioridade nos próximos 15 anos; 47% acham que ganhar dinheiro é uma prioridade; 61% temem mais a fome que a poluição; 58% se diz estar disposta a dedicar  tempo à religião, ficando em quarto lugar neste ítem  e atrás do Marrocos (90%), da África do Sul (72%) e da Turquia (64%) e à frente de Israel (52%). Já na França e na Espanha, esse índice é de apenas 15%.
 
Embora esses dados nos tragam mais esperança, é grande a preocupação com as altas taxas de mortalidade por violência, principalmente entre os jovens do sexo masculino, na faixa de 15 a 29 anos. De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH – em relatório publicado em junho de 2010, a taxa de homicídios chega a 68,9 a cada 100 mil habitantes enquanto na Europa essa taxa é de 8,9.
 
Até que ponto o acesso e o consumo das novas tecnologias de comunicação permitem ao jovem um maior acesso à realidade, tornando-o mais crítico ou mais dependente de um mundo de fantasia ?
 
No dia 20/12, na Câmara Municipal, o Movimento Ubatuba em Rede realizou um seminário para discutir questões relativas à juventude. Um dos convidados, a partir dos registros da delegacia de polícia, constatou que a cada três dias, um adolescente era detido por ato infracional. A partir desses dados é que se implantou o trabalho de liberdade assistida. Esse levantamento foi feito há mais de cinco anos e a situação parece ter piorado sensivelmente, de acordo com a opinião da pessoa que fez esse levantamento.
 
Nesse debate foram apresentados alguns problemas e ações desenvolvidas, no sentido de abrir a discussão. 

Ao final, foi decidido a continuidade da discussão no próximo dia 21/02/11, para a qual deverão ser convidadas pessoas responsáveis por políticas públicas para a juventude de maneira a orientar  o estabelecimento de objetivos e metas a serem atingidos.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/thelma-oliveira-o-otimismo-dos-jovens-brasileiros.html
 
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