Opinião

Tolerância à corrupção

O Estado de S.Paulo - Editorial
Entre 2009 e 2010, melhorou a classificação do Brasil no ranking de percepção da corrupção feito pela organização não governamental Transparência Internacional. Mas isso não significa que a corrupção diminuiu. O avanço brasileiro se deveu à piora do quadro em outros dos 178 países pesquisados. A corrupção é um problema cada vez mais grave no País.

O Brasil, na 69.ª posição, continua entre os países considerados reprovados, que, numa escala de zero (país totalmente corrupto) a 10 (onde não há sinais de corrupção), obtiveram índice inferior a 5. A nota do Brasil em 2010 foi 3,7, a mesma de 2009, e muito inferior à obtida em 2002, quando alcançou a 45.ª colocação. É notório o aumento dos casos conhecidos de corrupção ao longo do governo Lula.

Esse fenômeno é detectado entre representantes do setor privado que foram interrogados pelas instituições que contribuíram para a elaboração da classificação agora anunciada pela Transparência Internacional sobre a frequência com que, para ter seus pleitos atendidos pelo poder público, precisaram pagar propinas, corromper funcionários do Estado ou contribuir para o desvio de dinheiro público.

Nessa classificação, mesmo mantendo a mesma nota do ano anterior, o Brasil evoluiu seis posições, porque outros países caíram e a lista deste ano tem dois países a menos, e continua entre os três quartos dos 178 países com nota inferior a 5. Ao seu lado, na mesma classificação, estão Cuba e Romênia. Entre os países americanos, o Brasil ocupa apenas a 9.ª posição, atrás de Canadá, Barbados, Chile, Estados Unidos, Uruguai, Porto Rico, Costa Rica e Dominica.

São três os países onde praticamente não se percebe a existência de corrupção e que lideram a lista, com nota 9,3: Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura. A lista dos cinco países onde é menor a ocorrência de corrupção é completada por outros países da Escandinávia - Finlândia e Suécia.

A crise mundial, que exigiu medidas de emergência dos governos e a aplicação de vultosos recursos públicos no sistema financeiro, tornou o problema mais grave em todo o mundo, razão pela qual a presidente da Transparência Internacional, Huguette Labelle, defendeu a adoção de novas medidas que permitam o combate mundial ao problema.

No caso brasileiro, como observou a organização "Contas Abertas", que faz um acompanhamento minucioso do uso do dinheiro público, a pontuação alcançada em 2010 é igual à de 2005, quando o País foi surpreendido por um dos maiores escândalos de corrupção - o "mensalão".

Mas um conjunto de fatores econômicos e políticos contribui para acobertar os graves problemas sentidos por parcela do setor privado, de modo que a maioria da população não parece dar-se conta das dimensões e da gravidade da questão. O crescimento da economia, com a geração de mais empregos e mais renda, as oportunidades que podem surgir para o País com a realização de grandes competições internacionais, além da imensa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em consequência desse quadro, como que anestesiam a população, tornando-a mais condescendente com a corrupção.

"Em épocas tão positivas de crescimento econômico, com a organização dos Jogos Olímpicos e da Copa, e por ter o País um líder carismático, a percepção é de que a corrupção passou a um segundo nível no Brasil, que não afeta o cidadão", avalia Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas. "Enquanto os interesses mais imediatos são atendidos, com programas sociais, a corrupção passa a ocupar um lugar secundário."

O voto é o grande instrumento de que dispõe o cidadão para punir o corrupto e premiar os políticos corretos, que administram adequadamente o dinheiro do contribuinte. Mas o fato é que o florescimento da corrupção no atual governo não afeta praticamente nada a decisão da maioria do eleitorado.

Como lembrou Salas, o tema da corrupção, apesar de sua gravidade, não foi decisivo na eleição presidencial brasileira. "O assunto não foi central e não está afetando (ele falou antes da realização do segundo turno da eleição presidencial) o apoio aos candidatos."

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