Ubatuba em foco


Fazenda Jundiaquara

José Ronaldo dos Santos 
O morro pouco perceptível na foto, devido a mata fechada, é o da Jundiaquara, que, segundo Sebastião, o “Velho Rita” do Acarau, quer dizer “toca de peixe”. Está entre o bairro da Estufa e a praia Grande. Em cima deste promontório, já tomado pela natureza estão as ruínas da fazenda, cujo último dono foi Robillard de Marigny. Ainda de acordo com o “Velho Rita!”, “foi a primeira fazenda a comprar um engenho moderno, trazido direto da Inglaterra. A peça era grande demais e foi conduzida pelo rio Acarau numa barcaça, puxado das margens por escravos. Naquele tempo o morro todo era plantado, alcançava o sertão da Sesmaria. Depois que a fazenda se arruinou, o engenho foi vendido para a fazenda do Mato Dentro”. 

O finado Chico Raé, que eu conheci muito bem depois que retornou de Santos, dizia que era descendente de suíços trazidos para trabalhar na Fazenda Jundiaquara, no tempo de D.Pedro II. Acho que era mesmo! Afinal, não me lembro de nenhum outro caiçara que tivesse um porte tão aristocrático como o Chico. 

Segundo muitos testemunhos, o lugar é mal-assombrado e trás marcas de outros tempos, quando a agricultura atraiu os europeus para o primeiro empreendimento que o nosso chão caiçara conheceu. João de Souza, o caiçara do pé rachado, dizia que “até correntes de escravos ainda é possível encontrar fixadas em diversos pontos dali”. São provas de um tempo ainda anterior ao tempo dos parentes do Raé. 

Ainda de acordo com Chico Raé, o caiçara aristocrático,  os seus antigos foram trazidos para formar uma colônia no Brasil. Imagine uma colônia suíça na Jundiaquara! Chique, né? Porém, eles não estavam acostumados a serem tratados como servos medievais, por um fazendeiro de pouca cultura erudita e sem muita educação. Rebelaram-se, foram ficando desleixados, entraram no ritmo dos caiçaras que só tinham o tempo como patrão. Alguns retornaram às suas origens porque o consulado suíço ofereceu essa alternativa; muitos outros se acaiçararam. Dá para imaginar o resto.
 
“Um fazendeiro desolado, sem mão-de-obra. Isso tudo ajuda entender porque aquele lugar é mal-assombrado!”. Deste modo exclamava João de Souza. E lascava causos daquele lugar, desde “a toca de ouro da ariranha” até “o ingazeiro que chorava”. 

É por esse e outros motivos que eu creio que a municipalidade pode investir em turismo cultural.

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