Coluna do Rui Grilo

Neymar, Benicio Del Toro, MST, Gabeira

Rui Grilo
Futebol é um tema que não faz parte do meu mundo mas hoje me chamou a atenção a chamada na primeira folha sobre um comentário de Rosely Sayão. Tive que procurar o caderno de esportes que já havia descartado.

Nele, Sayão comenta que o recente episódio de agressão do jogador contra o treinador era um caso típico de um adulto que não teve infância e que por isso não amadureceu e que, por isso não teve tempo de pensar que hoje é um ídolo de muitos jovens e crianças, e que estes formam o seu caráter copiando os modelos dos heróis que admiram.

No entanto, Sayão lembra que ele é muito mais vítima que culpado pois também é fruto de uma sociedade que cultua a fama e o consumo desenfreado como valores absolutos acima de qualquer coisa.

Ele também se formou copiando imagens de seus heróis mais velhos que se vangloriam de sua truculência e que se orgulham dos apelidos que representam essas atitudes: o Animal, o Pit Bull, o Fera, o Doidão.

E essa atitude em campo vai se refletir nos sangrentos e agressivos confrontos das torcidas organizadas.

Isso é o mundo civilizado que queremos e que deixaremos para nossos filhos?

Benício e MST

No mesmo jornal, numa página interna, há o registro da visita do conhecido astro hollywoodiano Benicio del Toro à ENFF – Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema.

Essa escola foi construída em regime de mutirão pelos participantes do MST e com a colaboração de pessoas dos mais diferentes lugares, inclusive Saramago e Chico Buarque que doaram toda a renda de um álbum de fotos e posters.

Cada grupo de participantes do movimento que eram selecionados para os cursos desenvolvidos na ENFF, produziam os tijolos e construíam um dos blocos da instituição: os alojamentos, a biblioteca, o restaurante e o centro de inclusão digital.

Para a sua inauguração, da qual participou o renomado professor Antonio Candido e familiares de Florestan, foram convidados professores, intelectuais e políticos de várias partes do mundo. Nessa ocasião, cada um preencheu uma ficha em que discriminava como poderia contribuir com os cursos e com a organização da escola. No convite também havia o pedido de doação de livros para a formação da biblioteca, a qual, rapidamente formou um significativo acervo.

Atualmente, lá são formadas as lideranças do movimento em cursos ultraespecializados com nível de pós graduação.

Quando morava em São Paulo, descobri, próximo das Avenidas Angélicas e São João, uma loja do movimento em que se achava tudo que era produzido por eles, inclusive livros, cds e revistas. O objetivo da loja era mostrar o outro lado que a imprensa não mostra: que em torno de 70% dos alimentos produzidos e consumidos no Brasil são frutos de pequenos produtores, muitos dos quais ligados ao MST. Como esses produtos são embalados com a marca dos grandes supermercados que os adquirem, ninguém fica sabendo a sua origem e só conhecem o MST através da imagem que é divulgada pelos meios de comunicação de massa, isto é, como um bando de arruaceiros que invadem a propriedade alheia.

Mas o mesmo destaque não é dado para os grandes grileiros e firmas que se apossam de áreas públicas.

Hoje, o MST não apenas produz produtos agrícolas, mas também industrializa, tanto para conservar (no caso de geléias de frutas) como para agregar valor e criar novos empregos.

A ENFF se tornou uma referência da luta popular na América Latina e um dos destinos de intelectuais, artistas e políticos que se preocupam com os movimentos sociais.

Gabeira

Conforme se aproximam as eleições e quanto mais o Serra despenca ladeira abaixo, aumentam os e-mails tentando quebrar a imagem positiva da Dilma mostrando-a como terrorista, tratamento diferente daquele dado a outros políticos que militam em outros partidos.

Nunca recebi um e-mail mostrando a participação do Gabeira no seqüestro do embaixador americano, motivo pelo qual, mesmo sendo senador brasileiro, era impedido de entrar nos Estados Unidos.

Os mesmos grupos que enviam essas mensagens, não denunciam os torturadores que causaram a morte de Wladimir Herzog, de Alexandre Vannuchi e do operário Manoel Fiel Filho. E nem de Santos Dias, que durante uma greve, na porta da indústria Sylvania, em Santo Amaro, recebeu uma bala da polícia, deixando-o sangrar bastante para que, quando chegasse ao hospital, não conseguisse sobreviver.

Ninguém divulga as ligações de Tuma com o DOPS, um dos instrumentos do estado mais temidos na época da ditadura.

Qual será o porquê dessa atitude?

Uma vantagem de ser “ velhinho” é que a gente aprendeu que aquilo que está ruim pode piorar mais. Por isso não concordo com o Tiririca.

O amanhã depende muito dessas eleições. E nós, aqui de Ubatuba, sabemos bem o quanto é difícil conviver com o produto de escolhas erradas.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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